
Quem sou eu? Quem sou afinal? Será que eu mesmo saberei?! Olho para o reflexo na água e digo que ali estou; olho para a sombra que me acompanha e sinto que sou eu, mas a sombra e o reflexo sou imagens distorcidas pela física da materialidade, materialidades essas sem lugar na minha caixa de Pandora.
Não é igual dizer que estou a sofrer com um sorriso nos lábios, ou com uma lágrima na face? Questionam o sentimento ou a honestidade? Impeço-me de quebrar a promessa que fiz num momento de calor glaciar. Choro e faço-o por amor, pelo amor que esbanjo, pelo que os abraços que não dei, pelo rosto que não afaguei, mesmo pelo estalo que não fiz sentir. Choro num mundo de medo com receio da incompreensão, choro independentemente de verter lágrimas ou não, choro sorrindo, mas choro sobretudo por mim.
Não creio que tenha mudado assim tanto. A metamorfose não foi tão extensa para o sistema imunológico das pessoas mais próximas me rejeitar como indivíduo estranho e indesejável. Como em tudo há uma opção, ser ou não ser, sentir ou não sentir, ver ou não ver e a escolha foi nitidamente pela negação. Vejam, olhem para mim, retirem mentalmente a máscara, ela não está cá para vos impedir de ver. Deixem a sombra, deixem o reflexo, sou eu, eu porque não me vêem?!
Um sorriso não é sempre sinal de alegria, nem o silêncio sinal de tristeza. Muitas batalhas se vencem com um sorriso e muita sabedoria se atinge com o silêncio... Viro uma página e outra, sempre virando, sempre. Quero chegar ao fim, aí decidirei; um final "viveram felizes para sempre" irá levar-me a fechar o livro, enquanto que um final real abre-me um mundo de opções.
E são tudo opções, não vejam só, escutem, usem todos os sentidos. Não há livro de instruções, a vida não é um móvel do IKEA; não há dicas, as pessoas não são vídeo jogos... Sou forte mas não sou indestrutível, regenero cicatrizes mas preciso de tempo até que me façam outras, sou solitário mas só porque há espaço para mim em multidões...
Várias são as equações químicas que explodem sensações incríveis dentro dos bastidores da minha vida. Não sei se algum dia passarão para o palco e se haverá audiência caso aconteça. Muito provavelmente não restará ninguém para dizer sequer o "muita merda", mas a sombra é a do que sou e não do que fui!
Só eu sei o que sinto ao degustar as tuas palavras, não tanto pelo seu encaixe ou riqueza mas sim pela amargura achocolatada que envolve a simbologia das mesmas. Acuso aqui o impacto que causa em mim a originalidade do que escreves, leio-te de olhos fechados, sem fechar as pálpebras. Deslizo naquilo que escreves mas mantenho-me atenta para não perder pitada das especiarias que utilizas na tua escrita. Sinto-me aquela mulher de mãos pequeninas, que segurava delicadamente uma carteirinha castanha de veludo que de tão grande e pesada que era, uma mão não lhe bastava...
ResponderEliminarEncerro este comentário com um fecho banhado a ouro, dizendo que é no granulado sabor das tuas palavras que os meus sentidos despertam.