segunda-feira, 20 de abril de 2009

O Relatório

A busca de significados fez-me tropeçar numa descrição Psicograma, como se a psicologia fosse vendida ao quilo. Li e reli, analisei à luz da distância temporal de dez anos, o verdadeiro S.I. das minhas metas. As palavras ganham alguma consistência na minha mente e reconstruo uma imagem minha. Não vejo mais de que uma múmia, uma versão minha esvaziada da minha genuína essência. A visão é ainda turbada pelo ondular da superfície, tornando indistinta a múmia no espelho de água.

Então compreendo que o Psicograma mais não é que um auto-retrato. Seguro a mão da terapeuta e desenho com o píncel os contornos do meu rosto, da minha alma, da minha mente. Só que não é nem a minha mente, nem a minha alma, nem o meu rosto, que estão retratados, mas sim uma ténue imagem desfigurada e mutilada de mim. Para que cortaria Van Gogh a orelha se não para se retratar em seguida?!

"(...)Trata-se de um indivíduo caracterizado por alguma ponderação na expressão das suas necessidades, mas apresentando, por vezes, uma certa labilidade e hiperemotividade. Por vezes também, as cargas afectivas dominam-no, o que pode levar a uma utilização inapropriada da excitabilidade. Ocasionalmente pode apresentar falta de objectividade, mas é sintónico e espontâneo nas reacções.

De notar a existência de perturbações afectivas importantes, o que pode levar a um insuficiente controlo das reacções afectivas indesejáveis e alguma imaginação desregrada.

O contacto humano é bom, e parece haver boa relação com o conjunto parental, embora haja uma referência negativa ao simbolismo da autoridade e do masculino. Por vezes, a realidade e a forma como a vive face a si mesmo são relacionadas a aspectos negativos e angustiantes.(...)"

Dez anos volvidos sobre isso sei menos que julguei saber, mas então como agora, a forma como me captam é um registo de "por vezes", "parece", por alguma", "ocasionalmente". São peças de puzzles e não mil pedaços de espelho que se partiu... Até entenderem podem ver o meu mundo do lado de fora da redoma de vidro, agitem-me e provocarão alterações climáticas, basta dar corda e enchem tudo de música... É belo, é único, mas só faz sentido com o vidro que nos separa. Sente-te tentada a quebra-lo e nada restará, aceita o que te posso dar...

1 comentário:

  1. Van Gogh cortou a orelha para poder dar um pedaço de si, do seu puzzle ao seu amor!

    Dar e receber têm dimensões ambiguas, dependem do lado que se ocupa .... por vezes (achamos que) não conseguimos dar mais do que uma migalha. Mas o que é uma migalha para a fome de uma vida? Quem dá tudo busca receber tudo, tudo quanto receber menos do que isso, é pouco! Nem sempre se pode aceitar aquilo que nos podem dar ... por vezes não chega!
    Quando quiseres que vejam o teu mundo do lado de dentro da redoma do vidro ... vais entender que é belo, é único e não faz sentido o vidro que separa!

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