quinta-feira, 30 de abril de 2009

O meu País em Outdoor

Mas... Como?! Não é inteiramente nova, todavia esta ideia invade o meu espírito. Já antes me questionei sobre os outdoors. Formulei várias teorias sobre a forma como surgem. Sim como surgem, que até hoje não me deparei com o simples acto da colocação de um outdoor e sem questionar, ninguém se afirmou como testemunha do crime. Durante a noite poderão dizer alguns; ok porreiro não sou nenhum vampiro invertido na alergia à ausência de luz, para nunca ter caminhado durante a noite. Inclinei-me para a hipótese de empresas com tipos especializados nas artes ninjas ou ex forças especiais, mas passada a bebedeira excluí a hipótese, todos sabemos que esses tipos estão num qualquer CNO a fazer reciclagem profissional, para enveredarem por uma carreira nas escolas, onde são efectivamente precisos. Devolvo-me à lógica infantil e encaro-os como árvores metálicas, numa floresta de betão; crescem em qualquer lado, algumas dão flores, poucas dão frutos...

Aceite a origem, debato-me agora com dois fenómenos, por um lado a crescente quantidade, por outro a decrescente qualidade. No percurso Via-sacra diária, já de si espinhosa e penosa, vejo agora a minha visão obstruída com enormes outdoors, que impedem uma prospecção de poucos metros que a vista alcança. Já por si só, esta dilaceração visual já era suficiente, o pior é o encandeamento provocado por tão horríveis flores... Poderia facilmente fazer um top10, mas escolho apenas 3. Assinalo em seguida as minhas escolhas...

Terceiro lugar
Quando me deparo com este fotograma penso: "espera lá que faz ali uma foto do Sócrates com aquele senhor da UE a promover o casamento gay?". Dá para entender a cara do Durão Barroso, do género, abraça-me mas com cuidadinho, não evitando uma inércia muscular na aproximação excessiva. Os Berloquistas conseguem e já fizeram melhor, este desiludiu. Uma forma imediata de melhorar seria utilizar o "k" no lugar do "q", assim todos entenderiam e a geração rebelde conseguiria ler os hieróglifos estranhos dos cotas demagogos.
Segundo Lugar
"Meu Deus!" Deveria ter sido esta a expressão usada, mas não foi, simplesmente me arrepiei quando a vi... Para ser senhora e política em Portugal é preciso ter um contrato com a Loreal e destruir a camada do ozono. A tensão dos músculos que esboçam um sorriso, só comparável à expressão facial de quem leva um pontapé bem encaixado na masculinidade (não digo que os tenha, também não digo que não os tenha). A questão é bem simples, não é o aspecto estético que deve ser avaliado, mas que me resta: "Política de verdade" e uma mão amputada de três dedos?! É mesmo a esfinge que tenho de me focar. O que mais me intriga é o número de fotos que foram necessárias e as horas frente a um qualquer photoshop para chegar “aquilo”; se o ponto de chegada é este, como teria sido o de partida?! Até aprecio a postura e ideias da senhora, talvez esteja novamente a subir à portaria da minha escola secundária, de cabelo comprido, vomitando palavras de ordem por um megafone, para uma multidão de estudantes (ok, meia dúzia), contra as provas globais e os motivos pelos quais fechamos os portões naquele dia.

A grande vencedora
Desculpa ex vizinha... És uma campeã sem dúvidas e acho que mereces bem mais medalhas das que ganhaste, só assim a ironia do destino poderá ser corrigida. Há algum tempo que acompanho com curiosidade a Vanessa publicitária e não paro de me pasmar. Este não é o último, há um mais delicioso que reza algo assim: "Era esta a meta que me faltava." Pensei que era publicidade a uma clínica de cirurgia estética... Já passei lá várias vezes e ainda não consegui perceber o que é publicitado. Escolho este outdoor, como poderia escolher qualquer outro, porque este primeiro lugar é atribuído à pessoa, pela coerência, pela simplicidade e pela insanidade de quem insiste. Sinceramente prefiro a visão da bandeira Nacional nos teus ombros a percorrer vitoriosamente a volta de honra. Aí és a mais bela mulher portuguesa!

Resumindo, tudo vai mal. Deixem-se de coisas, plantem árvores que produzam flores e frutos como a que em baixo segue. Quero lá saber que os estudos digam que a publicidade deverá ser dirigida às mulheres, pois elas é que consomem. Está totalmente errado. Esta publicidade acalma os homens, os acidentes aumentam sem dúvidas mas o trânsito é menos agressivo, tudo anda feliz e sorridente; reduz o ruído e as buzinadelas, o excesso de velocidade passa à estória (todos queremos ver o máximo tempo possível). Ficamos felizes e relaxados, somos mais produtivos. As mulheres ao verem resultado, apressam-se a ir comprar lingerie igual e surpresa das surpresas, oferecemo-nos para ir junto, não resmungando nas trezentas e vinte e quatro lojas que ela pára antes, para desempenhar essa nobre arte das compras. Na loja nirvana, encontramos um daqueles cartazes em tamanho real da figura da publicidade e espumamo-nos de prazer visceral. Claro que a nossa não fica exactamente, melhor nada igual, mas com um toque de imaginação lá conseguimos exercitar a libido. Sem precipitações elogiamos, levamos a jantar ao italiano para comer aquelas pastas e gelados calóricos e ouvi-las resmungar que comem muito pouco e não emagrecem. Chegados a casa, depois de tamanho esforço mereceremos a recompensa...
O comércio floresce, a indústria também, a economia melhora, o país avança. A TVI deixa de ter "investigação jornalística" para fazer e volta-se novamente para os Big brothers; a família reúne-se novamente em frente à TV e somos todos novamente felizes. Tão simples, porque não fazem isso?!

Compreendo que tenham de existir algumas árvores feias. Por isso proponho algo que permita expressar o repúdio por elas. Todos os outdoors deveriam ter uma escada e um marcador próximo tipo IKEA, bem como alguns lugares de estacionamento próximos. Assim, depois de um dia de trabalho miserável em que digo sim senhor ao chefe e elogio a sua visão abrangente, quando engulo palavras como filho desta ou carvão do caraças, posso sempre estacionar o meu carro, agarrar um marcador, subir ao outdoor e desenhar uns cornos, uns óculos, pintar uns dentes de negro e fazer tudo o que a minha imaginação me suscita.

E o país andaria...

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