sábado, 4 de abril de 2009

Esgar de Consciência


Algo me perturba que não consigo descrever. Algo no entanto familiar, companheiro de inúmeras situações, inúmeros e momentos na mensurabilidade da minha escala de tempo. Trilho o mesmo caminho de absolvição, busco nos sons, nas cores, nas palavras dos outros, as minhas próprias palavras, as minhas próprias cores, os meus próprios sons. Algo muda desta vez, já são minhas, já foram e ainda são...

Incrível a presença do significado. Recuso analisar o significado e para ser familiar, tomo para outros aquilo que é meu, para recuperar como meu. Preciso de um heterónimo...
"Mergulhei de cabeça. Senti o meu corpo gelar e o meu espírito efervescer. Conflito de sensações, desorientação de sentidos. Egoísmo misturado com fragilidade.
Não me apetece falar, mas apetece que me ouçam. A percepção de idealismo reside no meio, simplicidade constante apenas nos refúgios que nos acolhem. Não estou por convite, estou por encarceramento. O guarda e o encarcerado são um e um só, EU.
Afinal falo mesmo, afinal não me ouvem. Precisarei mesmo que me ouçam? Tanto me faz. A civilização, as multidões estão aqui, eu estou bem lá longe, figura indistinta distorcida por ondas de calor num horizonte que me parece transportar para aqui, quando no fundo caminho para longe. Só espero não deparar com outra multidão.
O risco de explodir é menor que o de implodir. Num esgar de consciência sinto um grito crescer na garganta. Espero o terramoto de emoções tal qual se espera o estrondo após o relâmpago. Pode tardar mas surgirá e por muito preparado que estejamos, o grito da alma não será contido, porque a surpresa não é tudo.

Mas estou bem. Não sinto o mar, mas sinto a sua energia. Não sinto o vento, mas sinto a sua carícia, não sinto o solo a desaparecer rapidamente debaixo dos meus pés, mas elevo-me no ar...
Pelo menos sou livre, pelo menos..."

Inicialmente tiranamente apelidei de "esgar de fragilidade"

1 comentário:

  1. Consumo reacções estranhas ao ler as palavras que soltas. À medida que te leio, tudo se intensifica e consigo entre alguns parênteses teus , reconcentrar alguns sussurros meus.
    Foste tu que me trouxeste de volta ao improviso e como tua seguidora só posso deixar aqui desenhados motivos bordados de admiração num pano que tu tão bem sabes estender.
    A minha fúria literária recompensa-se na escrita e nas folhas amarrotadas.
    Sabes mais de mim que o meu próprio caderno.Vês melhor que um mocho na escuridão e evocas palavras que se os grilos conseguissem entender, calar-se-iam para sempre. É assim que me deixas perante a tua dimensão. Sinto-me observada, bem observada e de boca aberta em frente ao espellho.
    As tuas formas, o teu tamanho, o teu sopro, são diamantes de um colar, que me faz bem trazer ao peito.
    E como não se deve medir todos os pensantes pela mesma bitola, aplaudo pela área que em mim consegues abranger. Beijinhos

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