Dolorosa ferida se abriu no âmago do registo da intencionalidade e da convicção da existência da complementaridade. No alto do meu animismo busquei nas reflexões do momento, uma afirmação peremptória do estado de espírito.
Exercício exterior de incessante busca de um Graal que são palavras, palavras que não são frases, frases que não transcrevem emoções, emoções que me dominam; então porque não podem as palavras caracterizar-me? A necessidade, os meios, o desejo, os ingredientes para o início de uma viagem com muita bagagem mas sem destino...
O processo arrastou-se pelo tempo, não sabendo se escurecia ou se amanhecia, pois o tempo importante não é medido em relógios. As impurezas da alma jorraram feito lava de um vulcão, as limalhas do espírito soltaram-se, ficando a suavidade onde antes havia aspereza. Processo muito palpável, exorcismo visível, materialização de desejos, ânsias, expectativas, fulgor sem paralelo.
Metaforizando, como de uma nascente para a foz, tudo flui da alma para um aquário. Aquário cheio, alma limpa. Obscuro na alma, límpido no vidro. Seguro-o firme entre mãos, com o encanto da criança que observa o seu tesouro. Cautelosamente, movo-me enfeitiçado, feitiço esse que dura pouco. Mil pedaços, água por todo o lado, peixes sem vida. Debato-me incessantemente para colar cada pedacinho, para salvar cada peixe, afinal é parte de mim que ali está, a minha essência, o meu código genético. O vidro dilacera-me as mãos, prostro-me à minha condição humana. Sinais fisiológicos de mesquinhez, raiva, impotência, contudo todos efémeros.
Sou fulminado "caprichosamente" e ironicamente, intuindo a engrenagem do processo. A visão é agora mais ampla. Não preciso, não necessito, já me recordo... Isto é quem eu sou, a percepção das partes aglomera-se para perfazer um todo. Não posso retirar uma fracção de segundo que seja, quanto mais um momento, seria uma amputação dolorosa demais. Entendi o rastilho, que precipitou esta cascata de sensações.
Não sou usurpador de ilusões; A solidão não é uma disponibilidade mas a minha parceira para a vida, humilde o suficiente para me partilhar a tempos com alguém; O meu "Antes do Amanhecer" preencheu-me de fascínio e arrebatamento.
Quero fundir duas palavras, desculpa e obrigado, mas não encontro solução para tal desafio. Não importa, não preciso, tu viste, tu tocaste, tu ouviste, tu provaste; TU SABES...
Sigo o rumo da viagem. Agora entendo...
P.S.: Este será um dos últimos se não mesmo o último laivo de egoísmo neste espaço. Tenho asas, vou voar é altura de abraçar o projecto ao qual me propus.
Hoje escolhi escrever por prazer e não necessidade, que palavra melhor não encontro. Por esforço parei num eco do passado e comentário merece no presente pelo que o passado ainda me pertence. Do passado ao presente e do presente busco o passado. Alguém uma vez trouxe Fernando Pessoa a estas palavras...
ResponderEliminar"Dizem que finjo ou minto
Tudo que escrevo. Não.
Eu simplesmente sinto
Com a imaginação.
Não uso o coração.
Tudo o que sonho ou passo,
O que me falha ou finda,
É como que um terraço
Sobre outra coisa ainda.
Essa coisa é que é linda.
Por isso escrevo em meio
Do que não está de pé,
Livre do meu enleio,
Sério do que não é.
Sentir? Sinta quem lê!"