Finalmente o Nobel, o nosso, o deles, sei lá, creio com a crise de identidade nem ele sabe a que país pertence. Aprendi a odia-lo quando defendeu a inclusão de Portugal em Espanha e sempre disse que por ter levado uma espanhola para a cama, não tem direito de nos foder a todos.
Por diversas vezes comecei as mecas obrigatórias do autor e não passei das primeiras páginas. A justificação, a mesma após atribuição do prémio, falta de pontuação, palavras que não existiam e uma obscuridade de ideias com latências insondáveis, que numa perspectiva freudiana atirariam para a infância uns quaisquer traumas. Curiosidade, no alemão a tradução obedece e pontua...
Presente de Natal, na mente um debate televisivo com um padre. Uma petulância excessiva por parte do autor contrastando com humildade do sacerdote, para terminar num retractamento público do primeiro pelo uso de expressões como filho da puta para substantivar Deus. Ingredientes que faltavam para iniciar a leitura. A inércia do conceptual da escrita do autor desvaneceu-se ao fim de poucas frases e apaixonei-me.
Falta juntar sal à receita, há muitos anos atrás li o Antigo Testamento e entre as exaustivas descrições da tenda de Abraão, fiquei com imensas dúvidas de várias passagens. Porque quereria o Deus benévolo que eu amo, que Abraão sacrifica-se o seu filho? Como surgiu a humanidade se Adão e Eva tiveram apenas dois filhos homens e um foi assassinado pelo próprio irmão? Tantas outras passagens me suscitaram dúvidas, para as quais nunca me foram dadas respostas.
Saramago fez isso, deu-me respostas, preencheu os espaços em branco de forma astuta, coerente e intensa, tendo tudo feito sentido na minha mente. Agarrou-me e entrei nas palavras, nas frases, nas páginas. A pontuação fiz eu, tal como o autor sempre afastou as críticas e estranhamente ganhou uma intensidade e um ritmo muito meu.
Não questiono a raiva de Caim por Deus, não questiono o Deus tirano e cruel. Não julgos os desígnios desta personagem que por acaso é Deus, é uma personagem e o livro não é O livro, não é a Bíblia. As descrições são soberbas, a intensidade do coito de Caim com as mulheres é de uma pujança incrível. O ódio de Caim algo que definiria por belo, pois lhe dá um significado, uma coragem e uma missão. No final o autor Homem cala o personagem Deus, expiando o seu Grande Pecado.
Recebi também num natal um livro de Saramago "Evangelho Segundo Jesus Cristo",gosto imenso que Jesus seja retatado como ser humano e claro que viva uma história de amor com Maria Madalena! A falta de pontuação não me atrapalha em nada, dá-me a sensação de discurso directo, parece que alguém me conta em vez de estar a ler.
ResponderEliminarBeijo