Pavor no olhar daqueles que escolheram a natureza como forma de vida. Primitivos dirão alguns, puros digo eu. Índios espalhados por todo o mundo, sem nunca terem tido contacto na primeira abordagem a uma máquina fotográfica, fugiam de receio, ainda mais que de qualquer outro objecto do "Homem Moderno". Rouba a alma, diziam eles, rouba a alma...
Serão assim tão despropositados esses temores?! Eu creio que não. Nas vésperas de uma nova viagem, preparo a máquina como quem prepara uma armadilha para capturar a sua presa. Ghostbuster de almas e não de espíritos e a máquina fotográfica a minha armadilha.
Furtivamente aproximo-me, venço os últimos passos que me afastam da distância pretendida com um ligeiro girar da objectiva. Pressiono ligeiramente para uma primeira leitura e está capturada, em príncipio sem grande ruído para além do click que na selva denunciaria o tigre perante a sua presa, mas na urbe humana passa despercebido.
Aquela pessoa, aquela actividade simples, aqueles contornos, aqueles gestos, tudo aquilo passa a ser meu. Roubei-o e agora é meu, transporto-o como um troféu. Com estes troféus consigo ter uma percepção de realidades que desconheço, de sentimentos que não me permito sentir. Ainda não encontrei a minha alma, enquanto não o faço, entretenho-me olhando para outras almas...
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