Num dia que se pretende um marco de mudança, estudo o meu passado recente para fechar o ciclo e iniciar um novo começo. É sem surpresa que me vejo precipitar num caminho que já conheço e quem me diz é a minha voz do passado que ainda ouço como presente. Afinal não consigo evitar de colher a flor, seja rosa ou orquídea, não diga ela que não avisei...
"Murmúrios de Jardineiro
Tomava forma. Ao início apenas uma sensação, uma névoa disforme. O fumo toma forma, consistência, algo que se move como um todo, que toma vida, que respira que suga energia vital da minha mente e obstinadamente me perturba... Solta-se um múrmurio, o meu demónio abandona-me para depressa voltar... O murmúrio cresce em breve tornando-se audível!
A tela encheu-se de tons cinza com as primeiras palavras, quando o resultado deverá ser bastante colorido. Fujo à tentação de começar com o "era uma vez"; Foi de certeza uma vez, numa deambulação encontro uma bela flor. Ambiente inóspito cuja agressividade dos meios apenas era superada pela delicadeza da flor. "Tem de ser minha". Pensei eu e num acto de intolerante lucidez, corto a flor e levo-a para casa.
Deambulo bastante, como algumas são as flores que encontro. O fim sempre o mesmo: uma jarra com água. Dias de encanto que me absorvem cada impulso irracional da mente, na observação de algo que julgo possuir. Uma por uma murcham, morrem, perdem a alma, desfaço-me delas... Atormentado acelero a busca, não deambulo, persigo incessantemente, numa demanda sem paralelo, mas o fim o mesmo...
Doiem-me as mãos de arrancar, doiem-me os pés de deambular, doi-me o espírito pelo fracasso. A obstinação dá lugar à sofridão. Baixo os braços, pendo a cabeça em direcção aos joelhos, selo os olhos com as sobrancelhas e deixo o frio enregelar as orelhas. Eis que, mesmo ali, ali mesmo, não quero acreditar e estendo a mão. "Se não acreditas toca as minhas chagas!" A mais bela das flores. Desta vez sufoco os impulsos, algemo as mãos, mas sou vencido pela lúxuria qual Gollum repito: minha preciosidade, não permitirei que te roubem de mim. Num momento infinito de vaga memória sinto um punhal penetrar a minha pele e ferir a minha mão - um espinho. A dor trás a clarividência. Não te posso cortar, não te vou levar, nem mesmo num vaso com raíz como parece sugerir esta criatura irritante no ombro esquerdo.
De profanador a jardineiro. Mais beleza alguma parecerá às minhas mãos. Velarei para que nada de mal lhes aconteça. Terão água, sol, a energia de que necessitam, o carinho, as doces palavras e tudo o que peço delas é que não muchem antes do tempo, não morram, que me permitam observar. Não são minhas nunca serão.
Obrigado pelo espinho. Obrigado à mais bela das flores porque emergi da escuridão. Do cinza se fez côr, murmúrio se soltou o grito, e de gritar não pararei, até levantar os braços, erguer a cabeça, afastar as pálpebras e aconchegar as orelhas com os cabelos..."
Doiem-me as mãos de arrancar, doiem-me os pés de deambular, doi-me o espírito pelo fracasso. A obstinação dá lugar à sofridão. Baixo os braços, pendo a cabeça em direcção aos joelhos, selo os olhos com as sobrancelhas e deixo o frio enregelar as orelhas. Eis que, mesmo ali, ali mesmo, não quero acreditar e estendo a mão. "Se não acreditas toca as minhas chagas!" A mais bela das flores. Desta vez sufoco os impulsos, algemo as mãos, mas sou vencido pela lúxuria qual Gollum repito: minha preciosidade, não permitirei que te roubem de mim. Num momento infinito de vaga memória sinto um punhal penetrar a minha pele e ferir a minha mão - um espinho. A dor trás a clarividência. Não te posso cortar, não te vou levar, nem mesmo num vaso com raíz como parece sugerir esta criatura irritante no ombro esquerdo.
De profanador a jardineiro. Mais beleza alguma parecerá às minhas mãos. Velarei para que nada de mal lhes aconteça. Terão água, sol, a energia de que necessitam, o carinho, as doces palavras e tudo o que peço delas é que não muchem antes do tempo, não morram, que me permitam observar. Não são minhas nunca serão.
Obrigado pelo espinho. Obrigado à mais bela das flores porque emergi da escuridão. Do cinza se fez côr, murmúrio se soltou o grito, e de gritar não pararei, até levantar os braços, erguer a cabeça, afastar as pálpebras e aconchegar as orelhas com os cabelos..."
Desta vez não ouças só a voz do coração ... ouve a tua razão ... não te atires de cabeça ... faz diferente para tudo ser diferente!
ResponderEliminarQue tudo seja como tem que ser ...