Não há garantias que a alcunha que me tenha sido grangeada apenas com propósitos de elogio. Contudo recebido o baptismo é com convicção que ostento as patentes.
Empreitada pulsa de vida, pequenas formigas trabalhando arduamente cada qual numa tarefa, dando dimensão à Colónia. Do posto do comando vejo máquinas, trabalhadores, materiais tudo numa dança cuja coreografia é traçada em papel pelos senhores de capacete branco. Pela janela traço na pauta algumas das notas que traduzidas na obra darão a melodia que simbolize harmonia e exactidão do propósito.
Geralmente, sem antecipação e também sem precipitação, início o ritual calçando as botas e segurando o meu capacete. Traço a fronteira da sala de oficiais e imediatamente o capacete salta da mão para a cabeça. Depressa se reune uma multidão que por vezes é de uma só pessoa, mas sempre em excesso face ao que me proponho recortar da obra. Chovem explicações quando nenhuma questão saiu da minha boca, tenho dificuldades em avançar, quando por educação tento manter contacto visual com os interlocutores, quando gravo os registos dos monólogos para mais tarde analisar.
Intercalo passos com cumprimentos aos mais diversos intervenientes que chegam a ser superiores a noventa. Sempre antes da resposta bem um ar de admiração. Afinal o capacete branco vê mais que formiga, ainda para mais o Dono-de-obra. Piso lama como se de areia da minha praia se tratasse, mantenho a visão entre as cargas que se movimentam ao meu nível, por cima da minha cabeça e registo pela objectiva da mente cada detalhe. Não deixo de constatar uma aceleração no organismo vivo que é o todo enquanto soma dos indivíduos e equipamentos. A grua transporta ferro, madeira e betão a uma velocidade estonteante, os homens numa coreografia perfeita atingem índices de produção extraordinários, tudo tem vida, tudo produz a sua parte da vida.
De regresso à sala de oficiais, já sem o capacete branco, sento a multidão e peço um silêncio de poucos segundos para rever tudo o que me foi bombardeado anteriormente. Segundos apenas bastam para que debite todas as impressões, todos os pormenores, todas as precupações, todas as alterações, em resumo tudo o que necessitavam de ouvir ainda que preenchendo sempre o espaço reservado à surpresa, que sempre me é permitido.
Rigor, intransigência, obstinação, resistência e uma visão ampla associada a uma capacidade de antecipação. Saber reconhecer o valor, saber repreender, capacidade de motivar ainda que retirando primeiramente toda a pseudo motivação... Cansaço, frustação, desespero por vezes, até nova injecção de adrenalina e engrenar novamente a máquina.
Oscilar rigor e espírito sisudo intolerante a qualquer desvio do profissionalmente esperado, com humor confunde todos abrindo brechas no espírito e personalidade de cada um. Por essa brecha retiro a essência do próximo ataque ao indivíduo e um por um coloco o meu fio. Quando terminado o propósito, todos serão marionetas na minha mão e com eles comporei a mais bela obra, de uma beleza clássica.
A dificuldade está em gerir o medo originado em falhar, que algema a mente e origina entraves em cada um. Colecciono confrontos, na sala de oficiais, meço forças com os sargentos de campo e sem me usar do trono de Dono-de-obra, esgrimo homem a homem argumentos, numa luta que me excita e coloca toda a tensão no desempenho da mente. Enorme jogo de xadrez na mente, antecipando respostas, recuando um pouco para avançar o imenso, Colocar na pele do oponente, manipulando até que seja nosso aliado quando ainda julga que contra nós luta, mas é contra o que inicialmente defendeu que esgrima o seu "engarde".
A obra avança, os níveis de exigência também e os objectivos somam concretizações positivas. Sem procurar o reconhecimento fomento uma mística em redor da figura de Coronel e somo ordens a quem por esta altura deveria ser General, quando este coronel não é mais que uma formiga que se cansou de ver capacetes brancos incompetentes.
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