Na minha mente deambulam temas que orbitam em meu redor. Sei exactamente quais e salto impelido pela inspiração tentando agarrar algum, quando na maior parte das vezes, abro demoradamente a mão para encontrar o nada. Nunca deixei que a frustação de mim tomasse posse e encaro com absoluta tranquilidade, sendo esta goose chase coroada com uma musculatura das pernas, que em tempo me permitirá saltar bem mais alto e encontrar o meu tema.
Sinto-me no entanto em dívida para com uma personagem que me marcou durante um ano e meio. Devotei a essa personalidade um zelo tal que não me permitiu em algum momento esboçar um reconhecimento ao significado que transmitiu às minhas ideias e ao percurso que sei pretendo trilhar. Atabalhoadamente, no dia da despedida usurpei alguns minutos da sua atenção para tentar sublinhar o reconhecimento para com ele.
O Engenheiro, homem da velha guarda, no topo dos seus 74 anos puxa do seu curriculo de uma forma brilhante e ajustada, encontrando paralelo no seu passado, quaisquer situações do presente. Vida repleta de intensidade, emoções vividas no momento certo, assenta arraiais em diversos países mas é de África que guarda no melhor dos frascos de memória, os cheiros e cores.
Impulsivo, coerente, digno... forço-me a parar o elogio fácil, preferia abordar porém os defeitos que os tem, mas de que me valeria se nem sombra trazem à figura de quem, pouco ardilosamente tento representar. Vários "filmes" do seu passado revive com alegria, ao mesmo tempo que os vivo como se meus fossem.
Na sua figura de avozinho, consegue fazer baixar a guarda aos seus interlocutores para depois surgir transfigurado qual Adamastor e semear as sementes que trarão os frutos que deseja. Assim me abordou quando me conheceu e soube tecer uma teia pacientemente até me ter na sua equipa. Hoje entendo a imensa honra que foi ter sido escolhido, quando sempre me habituei a escolher.
Memória prodigiosa, rigor épico, disciplina segura... Pulando o muro com que separa as vidas, do outro lado surge um homem casado com uma pessoa falecida; não conhece o significado da palavra viuvez. Homem que redescobriu a paternidade há meia dúzia de anos atrás, com um míudo de 31 anos, curiosamente a mesma idade que eu. Tive a sorte de me sentir o filho deste lado do muro, quando do outro existia um míudo com amputação de um cromossoma. Quero acreditar que o paralelo termina no muro, mas de certo o Engenheiro algo mais viu para além deste paralelo.
Guardo como minhas as últimas palavras que me endereçou, quando me interrompeu na justa homenagem que lhe pretendi prestar. Por essas palavras modelo a peça de barro que tenho nas minhas mãos, como aprendiz de oleiro, tive as mãos do mestre sobre as minhas. Transmitiu-me o que achou que devia transmitir e deixou-me. Agora sei que tenho o que preciso e da peça final espero que resulte uma vida para contar não só profissional mas também no plano pessoal. Obrigado Engenheiro...
Pela primeira vez regresso a um texto porque a reticência tem de passar a ponto final. O Engenheiro cinco meses após os nossos caminhos se terem separado, surpreendeu-me e encheu-me o orgulho como só um pai consegue. Parte dos seus instrumentos que o classificavam de Engenheiro, deixou-os para mim, para mim. As instruções foram claras: quando chegar o momento, isto será dele.
Por isso me sentia pressionado a escrever, por isso... Duas semanas após tenho a minha resposta, melhor que o dia que recebi o meu diploma e ponto final.
Pela primeira vez regresso a um texto porque a reticência tem de passar a ponto final. O Engenheiro cinco meses após os nossos caminhos se terem separado, surpreendeu-me e encheu-me o orgulho como só um pai consegue. Parte dos seus instrumentos que o classificavam de Engenheiro, deixou-os para mim, para mim. As instruções foram claras: quando chegar o momento, isto será dele.
Por isso me sentia pressionado a escrever, por isso... Duas semanas após tenho a minha resposta, melhor que o dia que recebi o meu diploma e ponto final.
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