segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Tristeza

Porque a vida não é só alegria, porque a vida é feita de tristezas, porque gosto da melancolia. Gosto pronto, gosto... Gosto da melancolia e ela não gosta de mim. Aproxima-se como amiga, para logo me abandonar; abandona mas não me deixa só, fico acompanhado pela tristeza. Alegria essa, sei lá do que é feita. Sou correio mas não recebo cartas, entrego alegria e raramente me atrevo a olhar para o interior dos envelopes.


Tenho sempre a esperança de um dia não ser, não ser tristeza mas melancolia. Na alegria dos outros coexistiria pacificamente a melancolia, minha teria de ser minha. A melancolia é a luz difusa da tarde de Outono, o compromisso ideal entre o calor do sol e o frio da sua ausência. Os seus raios trespassam as nuvens vorazmente mas sem a força para apagar o frio. Assim o é, não sou sol, nem luz, não tenho calor, nem tenho frio, não tenho de sorrir mas afasto as lágrimas sem esforço. Passividade dos sentidos perante o meio que rodeia, não teria de sentir esta raiva, este vazio, esta frustação... a tristeza nunca vem sozinha, porque me deixas melancolia?

O ritual cumpre-se, mais uns quantos deletes no processo de cicatrização. Doeu, se doeu, custou, se custou. Reter de respiração que impludia o peito, rigidez dos músculos das mãos, perder do espaço que vai do olhar ao teclado... Conjugações do verbo tristeza. É mesmo um verbo o substantivo não tem acção.

Arremessem-me contra o paredão, subjuguem-me à força das ondas, segurem-me no fundo onde não encontro oxigénio, façam a minha pele temer o impacto com as rochas, espremam a pouca força que me resta nos músculos... Não quero saber!

Porquê, quem me responde porquê?

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