domingo, 15 de novembro de 2009

Arca do Tesouro I


Tenho o mau hábito de ler, devorar letras, palavras, páginas, livros e obras, ideias, sentimentos, transfigurações para o meu quotidiano. Usurpador de almas, mas um usurpador convidado, porque quando publicamos algo perde-se um pouco de nós.

O único sítio que tenho para guardar estes tesouros é a minha memória, ficando assim estas preciosidades à mercê da volatibilidade de um espaço que não é material. Começo aqui a minha arca do tesouro, para preservar a minha memória futura.

O Anel do Poço de Paulo Teixeira - Falo sem saber, falo pelo que julgo ter ouvido, mas algo será verdade. Quarenta e poucos anos, perde um filho muito pequeno, reforma-se com uma das maiores indemnizações que este país já viu, depois de um dos mais sonantes casos da banca, e tem Alzheimer. Algo tem de ser verdade e na verdade encontro no magnetismo e curiosidade pela leitura da obra dele. Depois do segundo livro, tenho a opinião formada que me proibirá de ler mais o que quer que seja dele; completamente despropósito de egoísmo espásmicos...

Ponto último e outros poemas de John Updike - Arrebatador, escrito na última etapa da vida, com a plena consciência do momento, abraça a vida e aceita a morte como o atleta que rebenta a fita de chegada no final da corrida. A forma como fala das pessoas do passado no tempo futuro, marca o desejo do reencontro e de enviar o presente para o passado. Aborda a morte como parte da vida e nunca o assombramento dos últimos dias traz nuvens de tempestade a uma escrita que atrai. Poema obrigatório: "A minha mão esquerda dorida".

Quarteto para as próximas chuvas de João Rui de Sousa - "Não digo", "Anotação", "Doi-me doer", expressões claras, simples e sinceras de dores humanas. Leio as palavras, antevejo os sentimentos e penso, "ei é minha essa dor", ou "sou eu que ama assim, sou eu que sou odiado assim". Ilustração quase perfeita do que defendo, a boa e a má notícia são uma e uma só, ninguém morre por isso, mas não somos tão especiais como julgamos se alguém já o sentiu. Devia ter sido minha a frase: "Apenas digo que pastoreio no vento um rebanho de dúvidas!"

Sem comentários:

Enviar um comentário