O título seduziu e levou-me abraçar o desejo de espiar cada uma daquelas páginas e sugar algo que pudesse tomar como meu, acendendo a luz da esperança que ameaça sucumbir.
Estória, ou melhor dizendo estórias, bastante adensadas. Uma construção única de personagens que dificulta ao início a percepção de quem será transportado para o círculo central do protagonismo, tecendo um enredo que sufoca na curiosidade. Ousadamente a autora lança-se na descrição de vidas em horizontes culturais, geográficos e temporais extremos, tornando-se torturoso adivinhar de que forma poderão , dois caminhos cruzarem-se.
Duzentas páginas para completar esse desafio. Dois terços de livro, em exercícios de descrição extenuante das personagens e da construção da personalidade das mesmas. "Um livro intenso, envolvente... que me manteve acordado noite fora, incapaz de o fechar." Ditos de uma crítica que agora me permiti agora confrontar pela monotomia de um desejo que tardava realizar.
Voltando ao número de páginas e à autora, duzentas foram as páginas que precisou para desenvolver uma visão única, que apenas uma mulher consegue. Julga ter identificado as suas duas personagens e dedicado igual proporção da sua arte a ambas, quando do elemento feminino foi o absoluto domínio; facto que só um homem consegue entender...
Novamente, as duzentas páginas, após este número e a um número diferente do fim, cento e dez, começo atingir o meu objectivo. Duas pessoas com percursos diferentes, passados improváveis, buscam um refúgio, um para fugir do presente e outro para buscar o passado. Desenrola-se uma apaixonada estória de conquista humana genuina, pautada de rituais orquestrados que me fazem pular, sorrir, desejar chorar... Reconheço-me na perfeição, sou eu, não sei como aconteceu mas fui lançado para o centro do círculo.
É aquela a minha forma de ser e estar, de desejar. Não sou um mas sou os dois, fujo do presente e busco o passado. Estou esgotado mas num estado de êxtase de quem atinge o seu objectivo; revejo a crítica, entendo-a agora. Autora, mulher, homem?! Não sei, não é de mulher, não é de homem, é de algo ou alguém de quem necessitava ler.
Caio em mim, estou amedrontado, não quero continuar. Impelido pelo pânico encerro o livro esquecendo para trás dois dedos, que teimosamente ficam pelo livro. Ou será que lá ficaram por algum motivo?! Pego na caneta, uso o papel e escrevo o meu final, sem adensamento, sem reboscar. O meu presente, bem como o meu passado, comprometem o meu futuro. Pouso a caneta, largo o papel, esqueço o meu desejo, saio do centro do círculo e deixo que Stella e Jake tenham a hipótese de ter algo que julgo nunca vir a ter...
Os dedos tinham razão...
P.S.: Um grande bem haja à Vizinha Bibliotecária que é incansável em me satisfazer os caprichos, em me encontrar exemplares e mais difícil, dar-me o que preciso ainda que eu não o saiba. Alimentas-me a alma e não fazes pergunta alguma...
P.S.: Um grande bem haja à Vizinha Bibliotecária que é incansável em me satisfazer os caprichos, em me encontrar exemplares e mais difícil, dar-me o que preciso ainda que eu não o saiba. Alimentas-me a alma e não fazes pergunta alguma...
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