segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Vampiro de Emoções

Contorço-me no meu caixão quando uma cama me bastaria. Fujo da luz do sol, quando o sol é uma impotência, não a mas uma. Não sou fraco, não sou forte, mas preciso de algo que não é meu, para me manter afastado do fraco, nunca atingindo o forte.
Ser ignóbil, predador insaciável, caçador… É sobrevivência, é a verdade, é a justificação, é tudo e ao mesmo tempo não é nada, porque não preenche o vazio, não justifica a traição da minha humanidade.

Passeio-me entre os vivos,
Mas é morto que me sinto.
Sinto o que não entendo
e
Se não entendo como sei o que sinto?!
Se choro, se rio, se fico apático
Se faço chorar, se faço rir, se levo à apatia…

Busquei incessantemente em mim, busquei noutras coisas. Viajei, li, experimentei prazeres, provei dores, fiz tudo fingindo que vivi e… E olho para o meu lado e não entendo o que é aquele sorriso, o que é aquele desprendimento da razão, o que é afinal aquilo, aquela pessoa, o que faz aquilo naquela pessoa, e na outra, e naquela, e em nesta, e em todas. Em todas não, porque eu pela oposição do sim permaneço neutro.

Acerco-me, conheço, furtivamente teço uma estratégia, entro na mente… Conquisto, experimento, tenho a mente aberta à minha frente, simulo situações, estimulo tristeza, promovo felicidade, luxúria, gula, avidez e qualquer outro pecado capital; faço-o e observo a emoção que dali surge e como deve surgir. Canso-me daquela mente, fecho a pessoa e desfaço-me dela.

Por imitação vivo fingindo viver, apenas imitando as reacções que observara antes. Esgota-se a energia roubada e sem apelo vence a instinto de sobrevivência, nova vítima…

Porque me tiraram da minha gruta? Porque insistem em me chamar? Espetem-me uma estaca no coração, porque não será em mim que espetarão, procurem quem dele me roubou e desfaçam-no, não à pessoa que mais não foi como vítima, mas a ele, a ele coração e que com ele eu me esfume.

My place is rigth by your side... I don't belong any where! Where are you Gollum?


sábado, 28 de novembro de 2009

Arca do Tesouro II

"Antes de nos Encontrarmos"

O título seduziu e levou-me abraçar o desejo de espiar cada uma daquelas páginas e sugar algo que pudesse tomar como meu, acendendo a luz da esperança que ameaça sucumbir.


Estória, ou melhor dizendo estórias, bastante adensadas. Uma construção única de personagens que dificulta ao início a percepção de quem será transportado para o círculo central do protagonismo, tecendo um enredo que sufoca na curiosidade. Ousadamente a autora lança-se na descrição de vidas em horizontes culturais, geográficos e temporais extremos, tornando-se torturoso adivinhar de que forma poderão , dois caminhos cruzarem-se.

Duzentas páginas para completar esse desafio. Dois terços de livro, em exercícios de descrição extenuante das personagens e da construção da personalidade das mesmas. "Um livro intenso, envolvente... que me manteve acordado noite fora, incapaz de o fechar." Ditos de uma crítica que agora me permiti agora confrontar pela monotomia de um desejo que tardava realizar.

Voltando ao número de páginas e à autora, duzentas foram as páginas que precisou para desenvolver uma visão única, que apenas uma mulher consegue. Julga ter identificado as suas duas personagens e dedicado igual proporção da sua arte a ambas, quando do elemento feminino foi o absoluto domínio; facto que só um homem consegue entender...

Novamente, as duzentas páginas, após este número e a um número diferente do fim, cento e dez, começo atingir o meu objectivo. Duas pessoas com percursos diferentes, passados improváveis, buscam um refúgio, um para fugir do presente e outro para buscar o passado. Desenrola-se uma apaixonada estória de conquista humana genuina, pautada de rituais orquestrados que me fazem pular, sorrir, desejar chorar... Reconheço-me na perfeição, sou eu, não sei como aconteceu mas fui lançado para o centro do círculo.

É aquela a minha forma de ser e estar, de desejar. Não sou um mas sou os dois, fujo do presente e busco o passado. Estou esgotado mas num estado de êxtase de quem atinge o seu objectivo; revejo a crítica, entendo-a agora. Autora, mulher, homem?! Não sei, não é de mulher, não é de homem, é de algo ou alguém de quem necessitava ler.

Caio em mim, estou amedrontado, não quero continuar. Impelido pelo pânico encerro o livro esquecendo para trás dois dedos, que teimosamente ficam pelo livro. Ou será que lá ficaram por algum motivo?! Pego na caneta, uso o papel e escrevo o meu final, sem adensamento, sem reboscar. O meu presente, bem como o meu passado, comprometem o meu futuro. Pouso a caneta, largo o papel, esqueço o meu desejo, saio do centro do círculo e deixo que Stella e Jake tenham a hipótese de ter algo que julgo nunca vir a ter...

Os dedos tinham razão...

P.S.: Um grande bem haja à Vizinha Bibliotecária que é incansável em me satisfazer os caprichos, em me encontrar exemplares e mais difícil, dar-me o que preciso ainda que eu não o saiba. Alimentas-me a alma e não fazes pergunta alguma...

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Tristeza

Porque a vida não é só alegria, porque a vida é feita de tristezas, porque gosto da melancolia. Gosto pronto, gosto... Gosto da melancolia e ela não gosta de mim. Aproxima-se como amiga, para logo me abandonar; abandona mas não me deixa só, fico acompanhado pela tristeza. Alegria essa, sei lá do que é feita. Sou correio mas não recebo cartas, entrego alegria e raramente me atrevo a olhar para o interior dos envelopes.


Tenho sempre a esperança de um dia não ser, não ser tristeza mas melancolia. Na alegria dos outros coexistiria pacificamente a melancolia, minha teria de ser minha. A melancolia é a luz difusa da tarde de Outono, o compromisso ideal entre o calor do sol e o frio da sua ausência. Os seus raios trespassam as nuvens vorazmente mas sem a força para apagar o frio. Assim o é, não sou sol, nem luz, não tenho calor, nem tenho frio, não tenho de sorrir mas afasto as lágrimas sem esforço. Passividade dos sentidos perante o meio que rodeia, não teria de sentir esta raiva, este vazio, esta frustação... a tristeza nunca vem sozinha, porque me deixas melancolia?

O ritual cumpre-se, mais uns quantos deletes no processo de cicatrização. Doeu, se doeu, custou, se custou. Reter de respiração que impludia o peito, rigidez dos músculos das mãos, perder do espaço que vai do olhar ao teclado... Conjugações do verbo tristeza. É mesmo um verbo o substantivo não tem acção.

Arremessem-me contra o paredão, subjuguem-me à força das ondas, segurem-me no fundo onde não encontro oxigénio, façam a minha pele temer o impacto com as rochas, espremam a pouca força que me resta nos músculos... Não quero saber!

Porquê, quem me responde porquê?

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Engate Farmville

"Sei lá", assim se chama o Blog do Guru Urbano dos tempos actuais, de seu nome Alvim, Fernando Alvim, 003, de Antena 3. Há nesse blog textos bem curiosos, mas um que me despertou particular interesse, primeiro pelo tema e depois pelo desenlace da estória. E tudo porque me revejo em alguns aspectos e o que lá está escrito foi e voltará a ser (só me esqueço do presente), motivo de estudo e experimentação da minha parte. O tema anda à volta do engate e é um post de Abril de 2009, se a memória não me falha.

A aproximação macho fêmea para fins reprodutivos, segundo Darwin, obedece a um conjunto de rituais curiosos que se manifestam não só ao nível do comportamento como também de aspectos fisiológicos. Ora bem, "estruturas ósseas" ainda alguns de nós ostentamos na testa, quanto a tudo o resto o homem é um injustiçado face às outras espécies. Agrava o facto de não haver uma época específica do ano para nos preocupar-nos com isso, e temos sempre de nos gladear entre nós pelo direito à perpetuação dos nossos genes, ou seja sincero, breves momentos de prazer carnal. Digo homem não num aspecto de humanidade, mas no género, sim porque esta questão ainda nos dias de hoje se coloca e é o menino que tem de abordar a menina...

Creio que uma mulher não tem noção do esforço que requer a um indivíduo se aproximar em determinado contexto e abordar uma mulher. Vencidos que são os preliminares, os olhares, a "palhaçada" para sacar o sorriso e tudo o mais, nunca há a certeza de ser bem recebidos. Acreditem que nenhuma seguradora vos faz um seguro de saúde que cubra danos na auto-estima de um tipo que leva um corte daqueles humilhantes; acreditem que eu sei...

Não vou falar das inúmeras abordagens, vou falar da minha abordagem, mas falar da minha abordagem é falar de várias abordagens. Retalhando a confusão, o momento não importa, o nível de alcoolémica também não e muito pouco tempo perco no estudo do alvo. O segredo é a auto confiança e blindar qualquer possibilidade de resposta da "presa". Avançar, chegar perto dela e dizer a primeira coisa que vier à cabeça por mais parva e disparatada que possa parecer. Aí já chamaste atenção dela, mas o difícil bem agora, manter a atenção dela. Originalidade, arrojo, criatividade, espontaneidade, humor são alguns dos ingredientes do sucesso. Como os misturar isso agora... Caminho mais fácil? O desprezo... É irónico mas funciona. Local mais comum dos aprendizes de caçadores, bares e discotecas, as "presas" já estão aceleradas do álcool e o barulho ajuda a camuflar a conversa despropositada. É completamente errado, porque os factos que referi são verdade, mas quando não te ouvem e o álcool apaga o polimento da educação, a mulher só olha para o aspecto físico e para o bem estar económico que lhe podes dar (muito machista eu sei!). Mas voltando a essa situação, o texto formatado seria sempre: "não pude deixar de reparar em ti". Por esta a altura ela já pensa Ya mais um, tu e o resto dos gajos, ao que se segue: "tens mesmo a mania que és boa oh tuga mal disposta". É cirúrgico, por esta altura já os queixos lhe caíram ao chão e ela está petrificada nem se mexe, despacha-te que tens pouco tempo para passar à 2º fase ou perdes a vantagem. A 2º fase perguntas tu, a resposta não a dou...

2º,3º, 4º e outras fases passadas a correr bem está na altura da colheita. É aqui que engata e não engate o Farmville. Para quê colher a fruta antes de estar no estado maduro ideal?! Que fazes, trocas telefone, msn?! Esquece fazes nada, podes dizer: "afinal foste uma agradável surpresa, vejo-te por aí e faz-me um favor sê tu mesma e sê feliz; ou se te interessar mesmo tens de subir a parada e dizes: "eh pa isto certamente foi mais interessante para ti do que para mim, por isso sabes onde me encontrar". Nesta altura está toda baralhada, as leis da natureza não são assim pensa ela, nas novelas e nos filmes também não. Estarei gorda?! A maquilhagem está errada?! Vai andar dia com aquilo na cabeça e para esquecer vai impor-se a seguinte conclusão, o tipo é doido, parvo, teve sorte e teve alguma piada aposto que foi só sorte. E fica por aí?



Hi5, facebook, tudo tão simples agora. Já não tens de andar a encontrar pessoas em comum, para descobrir o apelido dela, para ires à lista telefónica e com a sorte de um num milhão encontrares a morada dela para deixar um bilhete... Tudo muito simples, uma a duas semanas claro que ela não te contactou, se o fez, vai por mim e não vale a pena, mas procurar de certo o fez. Tiras o anonimato e fazes um visita ao profile dela mas sem adicionar. Ela vai  ver e pensará com um sorriso, não estou nada gorda sou boa este gajo de calças rotas e t'shirt com aspecto que não tem onde cair morto é exactamente como os outros. Deixa-a pensar assim, a malha está apertar...

Próximo passo, ela já sabe a tua vida toda, a tua reputação, o teu profile de trás para a frente é a altura, adiciona-la e deixar a seguinte mensagem: "Este tempo todo a pensar em mim e não conseguiste encontrar-me? Retiro tudo o que disse de seres interessante!" Tudo na cabeça dela se baralhou, já não põe em causa se és original ou não, tudo se desenrola normalmente e o final é o que quiseres...

No farmville temos objectivos. Plantámos de acordo com a nossa disponibilidade, há coisas que demoram mais tempo outras menos, umas valem mais moedas do que outras, não sendo necessariamente numa razão directa. Pois bem aqui entra o Engate à Farmville, é exactamente a mesma coisa plantas muita coisa mas cuidado não cometas o erro de tentar colher ao mesmo tempo...

Depois de tanto machismo, de uma "conversa" que começou no plural em género (homens e mulheres) e continuou no singular do género (homens), falta o singular Eu. Resulta, sim resulta já tentei tanta coisa, já me pus à prova de diversas maneiras e resulta. Encaro numa perspectiva antropológica algumas vezes outras de mostrar ao "outro lado" o que é estar "deste lado". Sou maior parte das vezes inconsequente, não me importa colher, importa ver crescer é tudo o que quero. Não vale magoar deliberadamente, não usar, isso não...

No presente não estou a plantar quanto mais a colher. Sobra um vazio muito grande em mim e o que desejo é pacificar este desequilíbrio e seguir o meu caminho. Isto sou eu e chega de Farmville para mim...

domingo, 15 de novembro de 2009

Arca do Tesouro I


Tenho o mau hábito de ler, devorar letras, palavras, páginas, livros e obras, ideias, sentimentos, transfigurações para o meu quotidiano. Usurpador de almas, mas um usurpador convidado, porque quando publicamos algo perde-se um pouco de nós.

O único sítio que tenho para guardar estes tesouros é a minha memória, ficando assim estas preciosidades à mercê da volatibilidade de um espaço que não é material. Começo aqui a minha arca do tesouro, para preservar a minha memória futura.

O Anel do Poço de Paulo Teixeira - Falo sem saber, falo pelo que julgo ter ouvido, mas algo será verdade. Quarenta e poucos anos, perde um filho muito pequeno, reforma-se com uma das maiores indemnizações que este país já viu, depois de um dos mais sonantes casos da banca, e tem Alzheimer. Algo tem de ser verdade e na verdade encontro no magnetismo e curiosidade pela leitura da obra dele. Depois do segundo livro, tenho a opinião formada que me proibirá de ler mais o que quer que seja dele; completamente despropósito de egoísmo espásmicos...

Ponto último e outros poemas de John Updike - Arrebatador, escrito na última etapa da vida, com a plena consciência do momento, abraça a vida e aceita a morte como o atleta que rebenta a fita de chegada no final da corrida. A forma como fala das pessoas do passado no tempo futuro, marca o desejo do reencontro e de enviar o presente para o passado. Aborda a morte como parte da vida e nunca o assombramento dos últimos dias traz nuvens de tempestade a uma escrita que atrai. Poema obrigatório: "A minha mão esquerda dorida".

Quarteto para as próximas chuvas de João Rui de Sousa - "Não digo", "Anotação", "Doi-me doer", expressões claras, simples e sinceras de dores humanas. Leio as palavras, antevejo os sentimentos e penso, "ei é minha essa dor", ou "sou eu que ama assim, sou eu que sou odiado assim". Ilustração quase perfeita do que defendo, a boa e a má notícia são uma e uma só, ninguém morre por isso, mas não somos tão especiais como julgamos se alguém já o sentiu. Devia ter sido minha a frase: "Apenas digo que pastoreio no vento um rebanho de dúvidas!"

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Hino


Um hino é mais do que um som que nos arrepia os pêlos da nuca, é algo mais que um motivo para um acelerar do coração. Um hino faz mais que apertar o estômago, um hino faz mais que espelhar emoção no olhar.

O Hino é uma identidade, uma raíz, um tratado de princípios e ideias. Num vazio de ideias, decrescer de adrenalina, orfandade de sentimentos, ouço um som porque os gestos não se ouvem e encontro-me no momento... Ironias melodiosas de contraste emocional, é o meu hino...

Simpsonizing...

Cogumelo

Vi-o, tinha de ser meu.
Fiz-lo como deve ser,
Sem saber o que fazer,
Foi assim que sucedeu.

Da mão à panela,
Escolher uma inacção
Já é em si uma acção
Enchi a gamela

Acção, reacção
Da panela para gamela
Alimento no estômago
Delírio no hipotálamo.

O cogumelo foi meu...

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Alquimia do Riso

Engane-se aquele que pelo título que precede estas linhas, se julgue prestes a ler algo que o faça esboçar sorrisos com pretensão de gargalhadas. É mais este título um dispositivo que desencadeia toda as acções após o acto. O orgasmo traz uma acalmia, uma passividade nevrálgica de corpo e espírito, sucedida por um mergulho no vazio.
A minha energia, o meu astral foi posto num objectivo único de fazer rir, num palco que não este. Alquimia de palavras, mímicas, sons, olhares, cumplicidades que como ingredientes se juntam para "roubar" gargalhadas. Concentro-me no após, no pós orgasmo, na fragilidade da energia que saiu dentro de mim e me coloca perante um abismo de implosão porque sobra espaço por preencher. É desse espaço por preencher que tracejei algumas linhas, linhas não minhas mas de sms que me deleitaram em momentos acronológicos, no entanto intemporais em termos de significado. Não importa o remetente, não importa a data como referido, não importa o teor, importa a forma como preencheram o vazio que tantas vezes me insinua o abismo mesmo defronte da minha alma.

"Se algum dia disseres que eu disse isto, eu nego e nego até à morte, mas és das poucas pessoas que conseguem decifrar-me e fazer-me sentir bem com o que sou. Beijos"

"Fizeste-me chorar..."
"Obrigadão amigo! Este sms da praxe é sempre dos momentos que me dá mais prazer no meu dia de anos! Um abraço"

"Meu amor como preciso de ti. Salva-me, rapta-me faz qualquer coisa para ser feliz ao teu lado."

"Para a criança que me fez completar como mulher... Beijinhos de quem te ama muito... mãe"

"Oh filho, como não me preocupo, se sois o que mais amo na vida... Fiz um esforço para não te mandar sms mais cedo, mas já não consigo aguentar mais. Pareces-me tão infeliz... Fica bem o mais rápido possível por favor"

"Acho que mereces saber, tenho um problema de saúde que suspeitam de 2 coisas mas para já só obtive um exame. Suspeitaram que tinha cancro na mama mas a mamografia não acusou nada, vou fazer agora uma ressonância ao cérebro com urgência para ver se tenho cancro no cérebro. Desabafei contigo porque te tenho como amigo mas pedia-te para não comentares nada com ninguém. Só" a minha família chegada e namorado sabem...

"Olha Joel, posso estar a interpretar mal, mas vejo-te valorizar demasiado uma situação que querias que fosse perfeita. A perfeição não existe, existem momentos quase perfeitos e se calhar tiveste-os. Fica feliz por isso. A mim, o que sempre me interessou foi olhar para ti e ver-te bem. Se for com a (...), muito bem, se não for muito bem na mesma. A questão é durante este tempo vi-te pouco e quando te vi não gostei. Se te esforças demasiado a coisa sai forçada. És bem mais interessante quando és autêntico. Agora dá-me o teu sorriso:) Beijo grande"

"olá primo:) Tudo bem? Soube ontem que o meu bébé é um bébé saudável e que 80% indica que é um menino. O (...). Beijinhos"

"Obrigado amigo! Até fiquei emocionada com a tua mensagem... obrigada pela confiança! E tu? Está tudo bem contigo? Beijinhos"

"Olá primo, desculpa se te acordo, mas não podia deixar de te dar os parabéns e dizer-te que és uma verdadeira força da natureza e o verdadeiro orgulho da família. Beijinho... Fica bem"

Por isso não me posso assustar com o vazio e devo continuar alquimia...

terça-feira, 10 de novembro de 2009

Encarregado

Os outros são uma parte de nós e a vida é uma soma de todos enraízada no solo fértil do compromisso entre a vivência e a genética. O propósito de prestar um tributo alguém apaga o sentido que procuro transpor nas palavras, desvanecendo-se todo o encantamento. Seduzem-me as pessoas da mesma forma que me repelem. Seduzem-me independentemente do sexo, idade, religião, cultura, status social. Sedução única que expele o sexo da equação deixando algo mais lânguido, a apropriação da alma pela absorção da riqueza da experiência do indivíduo.
Quero falar de alguém de quem absorvi uma riqueza arábica, alguém que me aplica o pseudónimo senhor engenheiro em cada frase que me dirige. Pseudónimo porque a distância segura ele sabe distinguir a pessoa que sou, da pessoa que represento, entendendo sem o demonstrar que visto uma personagem diferente para cada cenário e só me conhece nesse mesmo cenário, embora me veja nu. Menos complicado que aparentemente parece.
Por me expor, não significa que o exporei, tanto mais que não permitirei que o propósito aqui apague qualquer traço da individualidade e seus méritos. Não o expondo, reponho o favor e ainda que o vendo nu, o seu pseudónimo será Encarregado. Tentarei manter-me fiel e seguirei uma linha orientadora colando os fragmentos que fui encontrando, até formar o objecto feito indivíduo.
O Encarregado tem 16 anos, quarta classe e educação austera. Anseia algo melhor, pede dinheiro emprestado e embarca para o fim do mundo. França o seu destino, feito comparado "Amstrongoniano", em que fim do mundo e lua colidem num só, no sentido único da barreira física do indivíduo.
Não fala palavra de francês e o único emprego que encontra é no pior dos mundos, o lixo. Na lixeira sofre os horrores justificados pela tradição da praxe. O primeiro salário tem um destino a família e a pessoa que lhe emprestou o dinheiro. Um só destino disse eu, não haja confusões, família e credor são um só, o seu pai. Na sua mente vencerá sozinho e nada deverá.
Os anos passam, tinha 16 anos já não tem. A namorada a mesma que o viu partida. Ganho o respeito pelo trabalho e sobe a pulso. A esposa essa, antes namorada, agora mulher do Encarregado. Durante longos anos ele lá ela cá, para depois ela cá, ele lá e mais um ele pequeno cá. O Encarregado tem um filho. Os anos passam e o respeito está conquistado é altura de voltar, tem agora pouco mais de 50 anos.
Eu tenho 25 anos, um horizonte pela frente direi, mas ainda tenho os pés na areia e já acho que a linha do mar está muito distante. Conheço o encarregado começo a sugar a minha riqueza da estória qual psico vampiro. A primeira conversa foi igual a todas as outras, olhos nos olhos, franqueza, honestidade e rectidão. Cinco anos trabalhamos em conjunto, cinco longos anos pautados de muitas discussões, muitas trocas acaloradas de opiniões, contudo no intervalo ou no final,sempre almoçamos, jantamos juntos e apertamos a mão, olhos nos olhos...
Absorvi tanta coisa, tantos valores profissionais e senti-me comandante de um exército. O meu Encarregado e os meus homens dariam e deram metaforicamente a sua vida. A metáfora é minha, a vida deles, como se conjugaram isso guardo-o só para mim, porque desvendar seria entregar a piratas o mapa do tesouro.
Viro uma década, o BI feitas as contas diz que tenho 30 anos. Cinco natais volvidos em que recebi, cinco garrafas de genuíno champanhe francês e ofereci cinco garrafas de vinho de porto deixo o meu exército para sozinho procurar tocar o horizonte. Parto mas trago comigo o bem mais precioso. Se há pouco não o revelei não é agora que o faço. Parti mas há o telefone, há as visitas, há os jantares, sempre com os pseudónimos, mas sempre ambos nos vendo nus...
Ontem volvidas exactamente 24 horas e alguns minutos, recebo um email que passa o spam por obra do divino espírito de alguém que não de um santo. Português macarrónico mas decifrável, poucas palavras mas de mensagem imensurável; era o encarregado. Destruo o meu pseudónimo e digo Joel para si Encarregado, convidando-o assim a destruir o seu, porque perante mim está um homem que muito respeito e admiro. Junto orgulho à equação para lhe afirmar peremptoriamente e categoricamente que alegria que aquela mensagem me fez sentir foi única. Orgulho no homem, orgulho na vontade de aprender, orgulho em ter partilhado comigo o seu primeiro email enviado. Sinto uma reacção visceral ao tentar atingir o propósito com que comecei. Essa reacção diz-me que estou muito perto de conseguir, por isso devo parar.
O Encarregado, um grande homem, um exemplo para mim...

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Mesclado de ideias

Surgem ideias em catadupa e deixo que a torrente seja levada por mim. A questão não é tanto quem leva mas mais o que é levado e o que tem a importância é por ora indecifrável.

Elos
- Rasguei um elo, quebrei-o, o Mar O levou. Caixão divino e poderoso, senti que O aprisionou, O tomou nas suas garras e engoliu. Com ele, engolido foi este sentimento que me esmagava, atormentava e toldava a visão. Quebrou-se, foi, fiquei eu, o fim e o início, um ponto de viragem.
Retrospectiva literária - "Sombra de quem fomos", "Antes de nos encontrarmos" e um qualquer vomitado de sentimentos num formado designado livro de poesia. O primeiro, uma manifestação suprema de absorção atónita em que fiquei limitado a devorar página por página. usa e abusa de prolepses e analepses, constrói e destrói, cruza estórias e afasta-as em seguida sendo impossível anteceder um final, sendo capaz de fechar numa moldura maior um sem número de pequenas estórias, bastante díspares mas que em conjunto constroem um cenário incrível. O melhor do estilo cinéfilo "pulp fictionário". O segundo, construção sólida, expressiva, descripcionalmente incrível de duas personagens, separadas por espaço físico, percurso de vida e fados. Aplica a teoria de caos de uma forma sublime mas camuflada para explicar o inexplicável e originar uma confluência de duas forças opostas que criam harmonia. Mais que uma estória de amor, uma mensagem de esperança e um pontapé no traseiro à teoria que depois da tempestade, vem a tempestade, mas alicerçando no ditado popular que diz, "antes de melhorar ainda piora". Ditados e teorias de uma só autoria... O Vomitado, exercício de egoísmos personificados em palavras aparentemente indecifráveis e perdidas. O aparentemente apenas aparenta uma lição que já aprendi e me abriu os horizontes, esqueço o que procuro e permito-me ser encontrado. O holograma está lá e a espaços vislumbro sendo o arrebatamento excepcional. Próxima semana: "Quarteto para as próximas chuvas", "Ponto último" e "O anel do poço". Em tudo os títulos me unem.
Velhos hábitos - Uma coisa são o que as análises demonstram, o que eu escolhi sentir, outra qualquer completamente diferente sendo o meu organismo o meu maior aliado, nego resultados óptimos. Nada como retomar o exercício físico, entregar à orgia capitalista de compras materializadas em necessidades mais ou menos necessárias, comprar preservativos e preparar-me para prostituir um sonho.
Novo projecto - Atravessar o Atlântico, replicar soluções técnicas de raiz, seguir o rasto de Magalhães, não essa personagem infame que serviu a corte espanhola, mas o aglomerado de chips e abraçar o desconhecido na Venezuela. Seria fácil fugir, é um sonho, é um desafio pessoal, humano e profissional incrível. Dinheiro não é questão, do meu lado é, do outro nem assim tanto logo compatibilidade de ideias. Que faço? Protelo qualquer decisão, afinal de contas comprei preservativos...

Sou assaltado, fui violentado. Por não ter bens materializáveis fui punido com um turbilhão que origina um mesclado de ideias. O homem pensa, o homem sonha, eu sou homem logo não preciso de Platão para que me digam que sonho e penso. Sonho e penso ideias, ideias que não traduzo em sentimentos, não sinto, escolhi não sentir, preservo-me...