terça-feira, 27 de abril de 2010

Invasões invisíveis

Sim estou aqui, não parece mas estou, aqui estou sim. Não preciso partir, simplesmente parto. Não identifico o início do processo, simplesmente parto, sempre o fiz.

Na solidão nada me prende, voo, derrubo fronteiras, supero a linha do horizonte, nenhum obstáculo me cria impossibilidades. A fuga é o radiador do meu equilíbrio exterior, de dentro para fora, toma forma uma imagem, cuja sintonia nem sempre alinha com o espírito. Os olhos voltam-se para o interior, a minha boca fala só para os meus ouvidos, o sabor esse é conhecido, e a pele, a pele fecha-se, torna-se impenetrável, uma armadura que previne qualquer intrusão e me permite a invasão.

Um dedo da mão, um dedo do pé. Depois o pé e a mão. Centímetro sobre centímetro, descolo do visível, liberto-me da forma exterior sem que esta se deforme. Eis que me espreguiço, olho agora de fora, olho uma outra vez e penso que apenas não me posso alongar demasiado, para que não percebam. Corro descalço, corro nu, levanto bem alto o joelho direito seguindo a direcção ascendente da mão esquerda, que se perde no alto do céu, impulsionada por um sorriso de infantilidade pura.

Cansaço que mais não é que equilíbrio, é o despertador que me traz de volta num percurso inverso ao inicial, em toda a forma metódico. Centímetro sobre centímetro, pé ante pé, mão ante mão. Verifico a forma como a luva que se encaixa nos dedos. Olho em volta; não entenderam penso eu, se entenderam:
"Estás bem?"
R: "Sim estou, estava distraído..."

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