Nesta viagem que empreendi e revejo mentalmente, necessitei de um passaporte. Desfolho-o virtualmente e das folhas esbatidas e amarrotadas, surgem-me recordações que seguro como chaves da Caixa de Pandora. A tentação é demasiado grande e num rápido gesto, numa sinapse abro e o conteúdo transborda em mim, num movimento a que nenhuma ínfima porção da minha essência fica indiferente.
A viagem tem o seu carimbo, várias viagens vários carimbos, uns ficam marcados de forma mais distinta, outros menos perceptível. A ordem não obedece à cronologia dos acontecimentos. Errantemente, folha sobre folha encontro uma evidência da minha permanência naquela relação, por vezes fugaz outras mais prolongada, mas sempre a prazo.
Cada pessoa que passou na minha vida tem lá um carimbo. Foi por vezes mais difícil entrar, outras vezes mais dificil sair. Fui revistado, a minha mala/vida remexida. Mas de todas as vezes lá estive, vezes houve que apenas pus um pé fora do aeroporto, outras que tomei o tempo necessário, para sentir um pouco mais.
De relações amorosas falo. Preciso de passaporte porque é como se de um estrangeiro se tratasse no que ao amor se refere. Não sei a língua, não sei os costumes, não sei nada e pouco tento saber, porque o esforço por entender, recordam-me as folhas do passaporte, corresponde a não mais querer viajar.
Locais houve que pensei que ficar seria o meu desígnio. Nesses, por vezes precisei aprender muito para sentir esse amor que derruba as incertezas para lá da curva, as dificuldades após o primeiro obstáculo; outras vezes cheguei e senti: "sim aqui vou ser feliz" e nem ao BES precisei ir, porque todo o crédito que necessitava tinha-o eu, ou assim o julguei.
No oposto, pensei que lá nunca mais; no meio termo houve pessoas que me deixaram um enorme desejo de regressar e melhor conhecer, mas há tantos locais por visitar que seria desalinhamento com o que me faz avançar.
Folha por folha, carimbo após carimbo, o volume do que seguro na mão esquerda torna-se maior do que o da mão direita, sinal que percorro na memória as ultimas folhas. Sinto que preenchi todo o passaporte e pouco espaço sobra para mais uma viagem que seja. Reservo um pequeno espaço para a viagem que me levará à pessoa que se separou de mim quando cá cheguei. Reservo tempo, para Platão predestinar o lugar que poderei chamar lar, cheguei de onde nunca parti porque tudo o resto foi fechar os olhos e suster a respiração. Urge a minha chegada para recomeçar a respirar, a viver...
Passaporte pousado, sinto-me cansado, doem-me os braços de carregar a mala. A fadiga do jet lag instala-se em mim. Chega, chega mesmo, será que chega?! Por ora preciso parar, prostar-me um pouco, sobra pouco espaço para errar e o discernimento ficou para trás, preciso parar e esperar que ele me alcance...
Se as pernas não me levam, as asas o farão!
Há situações, eventos e circunstâncias que pura e simplesmente não conseguimos controlar, mas há outras que quando estamos em equilíbrio podemos perfeitamente domina-las e redirecciona-las. Alcança o equilíbrio.
ResponderEliminarLembra-te que o que conta é a Luz que deixas na vida de cada pessoa que se cruzou e cruzará contigo.
Acabo com um provérbio já conhecido: "Ama-me quando menos merecer, porque é sem dúvida quando mais preciso."
Beijinho