Muitas são as formas de comunicação e a forma como optamos fazer passar uma mensagem a alguém. Nos últimos tempos sinto que é na escrita que mais sucesso tenho em assegurar que a mensagem é entregue. Não é da entrega que quero falar, mas sim da recepção e não é de uma escrita qualquer, mas sim da que é manuscrita.
Faz precisamente hoje uma semana que no ritual de lançar chave do carro, telemóveis e o restante conteúdo dos bolsos para o pequeno módulo da entrada, reparo que está algo diferente. Antes de ver o algo diferente leio o bilhete, para que antes de ver o óbvio pudesse saber o que era. Num exercício simples e automático seguro as duas partes na minha mão e estudo o encaixe, sendo fácil perceber uma reparação sem preocupações demais. Esboço um sorriso e penso na aflição despropositada da senhora quando partiu a estátua e na descrição impecável do acontecido. Na indiferença da solução que propõe para o problema, ainda me ocorreu viajar novamente para comprar nova estátua nas Caraíbas, imagino a pessoa em si.
Nunca vi a senhora que me vai limpar a casa e já há algum tempo que superei a invasão de intimidade através dos meus objectos pessoais. O contacto é feito via telefone com o gerente e a chave deixada na caixa de correio. Toda a restante comunicação básica, instruções de limpeza ou pedir detergentes é em recadinhos. Esta senhora sei porém que é brasileira, índia, professora de artes. Pensei logo que deveria ter proposto fazer-me ela um objecto que corrigi-se o "dano" da quebra do significado, pensei...
Uma semana passada, o bilhete está exactamente no mesmo sítio e a estátua não se corrigiu sozinha. Todos os dias entro em casa e antes da rotina de atirar chaves, telemóveis e restante conteúdo, tenho fracções de segundo que me recordo de um significado só meu e por isso agradeço à estátua ter-se posto debaixo do quadro.
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