quinta-feira, 21 de maio de 2009

Engenharia Alemã

Sala a meia luz, função dos auscultadores e tradutor diferente do pretendido; orelhas quentes e aconchegadas, passo do inglês para o alemão, depois para o espanhol e por fim o italiano. A voz não satisfaz, procuro com o olhar e na cabine antevejo as formas que dão luz aos sons; o espanhol soa-me estranhamente melhor...

Regresso ao estado anterior e a frequência de piscar de olhos altera-se no sentido mais óbvio. Peso titânico se abate sobre as minhas sobrancelhas, ceder não é solução. Levanto-me ao som da sirene, só que não sou bombeiro nem a sirene tocou, mas a velocidade, essa sim foi exactamente simétrica.

Malditos sensores... Lá arranjo artimanha de garantir que a água corra e lanço no rosto algo que me beija e refresca o suficiente para perceber que é água. Primeira ida à parte menos nobre da casa-de-banho e a surpresa que ainda não sei. Inspirado pela acção da água no rosto, experimento acção refrescante no interior. O efeito não é o mesmo, pelo menos o sabor não. A quantidade de água ingerida é proporcional ao número de vezes que me permitem ter consciência crescente da surpresa.

Imaculadamente limpa, isenta de odores, hora após hora, 9 horas depois, e trezentas e muitas pilas após, algumas delas diversas vezes e... isenta de odores e imaculadamente limpa. Mas como? Mas eu, mas eu... Eu também não sujei nada! Um dos melhores postais do valor da Engenharia Alemã.

Sempre fui confrontado profissionalmente com a filosofia alemã de trabalho. Há dois anos recuando no passado, após uma entrevista longa, intensa e com o perfil de aprendizagem imenso, apresentam-me proposta que após algumas contas de dividir mentais, de uma cabeça cujos mecanismos linguísticos foram em língua anglo-saxónica durante mais de uma hora, ao quanto que a matemática resume-se à universalidade do conceito maternal da língua. Saio altivo num sentido estético de orgulho profanado pela vaidade. Afinal oferecem três vezes mais do que eu disse auferir. A cara não foi de espanto porque a divisão teve de ser por 14 até chegar a esse valor. Estranhos os caminhos posteriormente trilhados.
Tudo é relativo, na negociação, na vida; há 4 meses percebo o real valor da engenharia alemã e percebo que o leque de pavão deveria ser trocado por uma venda nos olhos...
Uma vela, uma simples vela. Um urinol o habitual problema, e uma vela. Resolvido! As casas de banho alemãs são de facto um manancial de utilidades; recordo-me por exemplo de um urinol com suportes para deficientes, a altura que só um gigante, ou indivíduos oriundos de certas regiões de África, conseguiriam utilizar. Desliguei o processo mental e simplesmente aguardei; não foi necessário muito tempo, afinal estava perante o meu primeiro vomitório, higiénico, seguro e ergonómico...
É isto o que um povo incapaz de tomar uma decisão enquanto individuo, mas obstinados no cumprimento dos desígnios ditados colectivamente, consegue produzir. Um efeito simples de anatomia psicológica confirmada. É certo que passamos por uma fase que todos os rapazes quiseram ser bombeiros, mas daí a direccionar continuamente a "mangueira" para a pequeníssima figura da vela de forma inconsciente, vai uma muralha da china. É um desejo inato que se sobrepõe a um actual flagelo de homens a espreitarem para o urinol do lado, o que se reveste numa dupla funcionalidade no respeito das liberdades e intimidades alheias...

Um alemão não aborda é abordado. Não ri sem ser solicitado, não chora sem ser autorizado. Expia os pecados de um passado que deseja mais distante mas que não o é efectivamente. Finge-se europeu quando no fundo são uma raça predisposta e programada a vencer. Funcionam em colmeia e o indivíduo anula-se a si mesmo.

Muitas linhas mais poderia riscar, como a aranha tece a sua teia. Contudo muita seda ainda falta para uma visão completa e o tempo terá tempo, deixo seguir.
Desejo ser alemão socialmente, para arranjar espaço e ser quem sou... Coisas minhas

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