Como eu gostava de ser poeta... assim começa um poema de Manuel Quintella e Sousa!
Tropecei neste livro e achei que precisava de o ler. O livro esse, "Dias sem Sol", é muito mais que isso. É a alma de alguém. Por ele sei que o poeta ficou orfão ao 5º dia, quando Deus só descansou ao 7º. Sei que, perdeu a rosa com quem se entrelaçava ao vento, com quem fazia amor metafisicamente, por quem deseja todos os dias que a morte o leve para junto, a quem a cama é o mesmo que uma campa, tamanho é a solidão e a frieza.
Sinto invandir a vida deste indivíduo, como se o futuro estivesse retido no presente que já é passado. Página a página, poema a poema, palavra a palavra, sentimento a sentimento, sensações familiares, medos únicos, ansiedades muito minhas. A alma roubada é a minha afinal.
Quem me dera ser poeta e mandar aos 4 ventos o que me corroi internamente e com isso conquistar a paz que teima em me atormentar.
Empreste-me o poeta a alma e diria por palavras que não são minhas, mas que possuiria por próprias:
in Dias sem Sol, "Sinto-me Só"
"Sinto-me só, abandonado,
Como aquele que perdeu o autocarro,
Sinto-me como o mendigo
Que escolheu o local errado,
Sinto frio, vindo de dentro,
Sinto aquela mão,
Que não me dá alimento,
Sinto que vivo, por viver,
Sinto que vejo, só por ver!
Sinto que sou o palhaço
Sem circo, sem público,
Sinto que me esgoto,
Que me gasto,
Sinto que só falo
Quando estou só,
Sinto que me vejo
E até a mim meto dó,
Sinto que sinto
O que já não sinto,
Sinto que já estou por tudo,
Sinto que falo
Só porque não sou mudo
Sinto isso tudo,
Mas matem-me, ao menos,
Porque não quero estar só
no Mundo!"
Manuel Quintella e Sousa, com a tua alma entendo melhor o que dentro de mim transporto e por isso o meu muito obrigado, ao poeta, ao filho, ao amante, mas acima de tudo ao homem...
quarta-feira, 31 de março de 2010
sexta-feira, 26 de março de 2010
New York
Mais de semana e meia volvida do regresso, com um saltinho à Las Ramblas pelo meio, onde a energia e vida de uma cidade, à data pulsante mas que agora se move vagarosamente na minha mente, e ainda sinto na pele a chuva que molha os sentidos, os sons que despertam a mente, os vultos dos edifícios enormes que entorpecem as sensações, a simpatia do arco-íris de pessoas que perturbam as emoções...
Como um filme, um mundo à parte, sem descrição, tantas são as definições simplistas e muitas vezes ouvidas que descrevem parte do que a cidade nos devolve. No meu caso não devolveu nada, porque nada levava de expectativas; no meu caso despertou...
Já diz a música, a cidade onde as ruas nos fazem sentir bonitos. Fazem sentir-nos bonitos, diferentes, iguais, especiais. Há espaço para todos, é multicultural, há oportunidades únicas nas quais encontramos não só um pouco de nós como do mundo.
A distância seja temporal como física não apaga as sensações. A poeira que se levantou e me deturpava a visão está a assentar, ficando a impressão marcante que recolhi, impressão essa que não se apagará. É uma presença nos sonhos, é uma presença acordado, manifesta-se em diversas situações da rotina diária, originando um sorriso indisfarçável.
É um mundo e é a nossa aldeia, onde as pessoas param simplesmente para nos darem um olá ou perguntarem se está tudo bem e em seguida oferecer ajuda. As pessoas marcaram imenso, o nova iorquinho surpreendeu a níveis aos quais não estou já habituado quando a surpresa sendo positiva, vem de outros seres humanos.
Talvez estas linhas tenham sido escritas cedo demais. Talvez precisasse de deixar assentar devidamente a poeira antes de expurgar esta tosse que me aflige com o medicamento que são as palavras. Mas rudimentares são as palavras, como as figuras do homem das cavernas, para ilustrar a grandeza com que ele vê a caça e o que o cerca, como presa fui no emaranhado de sensações em que me envolvi em New York...
Como um filme, um mundo à parte, sem descrição, tantas são as definições simplistas e muitas vezes ouvidas que descrevem parte do que a cidade nos devolve. No meu caso não devolveu nada, porque nada levava de expectativas; no meu caso despertou...
Já diz a música, a cidade onde as ruas nos fazem sentir bonitos. Fazem sentir-nos bonitos, diferentes, iguais, especiais. Há espaço para todos, é multicultural, há oportunidades únicas nas quais encontramos não só um pouco de nós como do mundo.
A distância seja temporal como física não apaga as sensações. A poeira que se levantou e me deturpava a visão está a assentar, ficando a impressão marcante que recolhi, impressão essa que não se apagará. É uma presença nos sonhos, é uma presença acordado, manifesta-se em diversas situações da rotina diária, originando um sorriso indisfarçável.
É um mundo e é a nossa aldeia, onde as pessoas param simplesmente para nos darem um olá ou perguntarem se está tudo bem e em seguida oferecer ajuda. As pessoas marcaram imenso, o nova iorquinho surpreendeu a níveis aos quais não estou já habituado quando a surpresa sendo positiva, vem de outros seres humanos.
Talvez estas linhas tenham sido escritas cedo demais. Talvez precisasse de deixar assentar devidamente a poeira antes de expurgar esta tosse que me aflige com o medicamento que são as palavras. Mas rudimentares são as palavras, como as figuras do homem das cavernas, para ilustrar a grandeza com que ele vê a caça e o que o cerca, como presa fui no emaranhado de sensações em que me envolvi em New York...
sexta-feira, 19 de março de 2010
Suspiro
Quando alguém surge
É quando mais só me sinto...
Perco aquela que é a minha melhor companhia,
A Solidão...
Porque dizemos adeus,
A quem nunca chegamos a dizer olá?
Será porque é mais simples
O adeus que o olá?
Nunca fui bom com despedidas
Mas desaprendi a dizer olá...
É quando mais só me sinto...
Perco aquela que é a minha melhor companhia,
A Solidão...
Porque dizemos adeus,
A quem nunca chegamos a dizer olá?
Será porque é mais simples
O adeus que o olá?
Nunca fui bom com despedidas
Mas desaprendi a dizer olá...
quarta-feira, 17 de março de 2010
Aconchego dos sentidos
Mergulhei numa orgia dos sentidos. Volúpia intensa rematada pela pele, pelo olfacto, pelo paladar, pela audição; percepção que escapa aos olhos...
A visão, essa faculdade do ser humano, habituada a ser personagem principal, que nos devia mostrar o mundo como ele é, mas esconde o que se esconde para além do cheiro ensurdecedor prostrado perante os olhos.
Enganei-a, enganei a visão. A receita é intransmissível, não pode ser replicada. Os ingredientes banalizam o resultado. O corpo está exausto, os músculos comprimem num latejar, não de agonia mas de concretização. O coração brada a sua força a cada recanto e a cada célula do meu organismo. Os pulmões dizem presente, fomos capaz de acompanhar... Sucesso individual, transportando o colectivo para excitação plena de equilíbrio. Como sempre falta algo...
Incenso, temperatura, amplitudes, som, velas, água, algodão "sedoso"... Fecham-se os olhos. Mergulhar num emaranhado de sons, cheiros, percepções da pele. Sem esforço o som da respiração progressivamente sobrepõe-se, desencadeando um fluxo de energia que se propraga como um tremor de terra suave mas avassalador. Os dedos dos pés, as pernas, o abdomen, os braços, o pescoço, o rosto, os cabelos. Emergir num espaço intemporal e plasmático. De novo em uníssomo. Transformação de dentro para fora. Venha o universo contido naquelas paredes.
Não há entendimento, não há percepção, o que há é um som que vibra no corpo, odores que abraçam o ar em teu redor, ondulando lentamente em direcção ao nariz; a pele transforma-se numa imensa antena parabólica que capta cada estímulo, cada mudança de temperatura, cada gradiente de pressão. Tudo como uma parte, mas uma parte do todo...
E a visão? A visão está lá mais atenta que nunca, a fazer o papel que realmente é o dela. Lentamente os outros sentidos convidam-na a juntar-se à tela. Abrem os olhos, mas, mas, mas... O que é tudo isto? já cá estava? Nunca vi um vermelho assim; formidável as sombras criadas pelo ondular do fumo da vela, e o brilho da água a correr, mas, mas, mas...
Esteve sempre lá, está sempre lá, só saber como e deixar os sentidos aconchegarem a alma!
segunda-feira, 8 de março de 2010
Morreu... Ela morreu!
"Morreu... Ela morreu! Mano?!" Talvez as palavras mais difíceis de dizer na minha vida. Corri, na minha mente as ideias atropelavam-se, os sentimentos ameaçavam retirar toda a energia, mas não podia parar, tinha de continuar, tinha de chegar a ti, tinha... Lá fora ouviam-se gritos histéricos, não se percebia se de alegria, ou de desespero, pois agonia e alegria vivem tão perto da nossa alma; num instante se acercam e cometem a sua tirania, tal qual vizinhas bisbilhoteiras.
Saíste do banho, não me lembrei o quão frágil estavas, queria abraçar-te e mentir-te. Passaste tanto, porque tinha eu corrido tanto, porque tinha de ser eu o portador?! "Morreu... Ela morreu!" As palavras saíram-me cuspidas da boca e entrei em choque, nem de respirar tenho memória. De toalha caída, apenas segura pela mão, olhaste-me como não consigo descrever, mas não havia ódio, não havia raiva, não havia chama, não havia nada; havia apenas um assentir que fiz o correcto. Passaste por mim, quis novamente abraçar-te mas... Vestiste algo, saíste para o barulho da vizinha que já sabias não ser a vizinha menos má. A tua mãe abraçou-te, a mãe dela abraçou-te, beijaste ambas, eu olhava...
Eu olhava, tu estavas na cama, não falavas, não tinhas fome, não tinhas sede, não sei para onde olhavas. Tinha medo mas ainda assim aproximava-me só para ter a certeza que respiravas. Foste ao funeral. Seguraste o rosto dela com ambas as mãos, tomaste o teu tempo, beijaste-a e tomaste o teu lugar na fila dos murmúrios. De todos aceitaste as condolências, nunca choraste. Duas semanas ficaste na cama, não falavas... Eu gritava: "morreu... Ela morreu!" Agora ouvias e eu não falava. Não abracei mas quis tanto.
Foi minha a tua raiva, a tua cólera, a tua indignação, o teu ultraje. Repugnei Deus, porque teria ele feito isso. Porque te fazia sofrer tanto. Só a salvou quando te quis matar, para poder castigar mais tarde. Não devias ter sobrevivido, não podias, ninguém sobrevive, enganaste-o, ele não poderia deixar passar imune. Passaste tanto e nem por uma vez te ouvi dizer, afasta de mim este cálice. Bravamente lutaste.
Vi-te ligado a máquinas, desejei que elas se calassem para que te pudesse ouvir, mas apercebia-me que se elas parassem morrias. Via-te ali deitado e ouvia os médicos dizerem que tínhamos de estar preparados e a cólera, a raiva cresciam. Eu também não chorava, não te queria envergonhar. Venceste, apeteceu-me perguntar se estavas orgulhoso de mim, não o fiz...
Ela esteve sempre lá meu irmão, em todos os momentos te segurando a mão, te arranjando o cabelo, te dando comida. Tanto carinho no olhar dela, tanta devoção, tanto amor... "Morreu... Ela morreu!" Deus não te castigou, eu sei que não te castigou, quero pensar que não, quero pensar que a foice falhou o centeio na primeira passagem, mas teria de passar na segunda. Penso que a pessoa que te amava, que te segurou a mão, penso que ela, eu quero pensar, eu quero acreditar... Penso que ela trocou de lugar contigo quando a foice passou, para que as máquinas se calassem e eu te ouvisse finalmente.
Dois meses passaram, tinhas chegado do hospital, onde estiveste quase quatro meses. Parecias recompor-te. Ouvia gritos, corria, corria. A tua mãe, a nossa mãe gritava, tu não falavas, tu não comias, tu não bebias, não precisei de me aproximar para saber que não respiravas. Mas a foice já tinha levado o centeio... Conclui a corrida, segurei-te nos braços, fiz tudo o que aprendera. Não sei quanto tempo levou, mas ambulância tinha chegado, podia deixar-te já respiravas. Desculpa, não consegui ser mais forte, chorei, vomitei, fui fraco.
As máquinas, novamente as máquinas. Tinham-te de operar novamente. Oito horas, abriram-te a cabeça, o nariz, os olhos, os teus lábios, todos se juntaram ao teu pescoço. Arranjaram-te, arranjaram o que podiam. Tiraram cabelos e vidros da tua cabeça, não devias estar vivo, ninguém sobrevive aquilo. "Lamentamos". O meu irmão não pode morrer ele não vai, por favor não vás. Fugi dali, berrei gritei, chamei-O filho da puta. Não morreste.
Foram mais meses de recuperação, foi a miquinhas que também partiu para resolver as coisas do outro lado de cara a cara com quem decide estas merdas, foi o nosso maninho que também se aproximou da foice. Não te vi chorar, não te tenho na mente a chorar. Perdeste visão, audição olfacto, mudaste a personalidade...
Quantas vezes estou sentado a teu lado e penso como será que tu consegues, e grito na minha alma: "Morreu... Ela morreu!..." E porque não te abraço?
sábado, 6 de março de 2010
Capitães de Areia
Pedro Bala, Professor, João Grande, Dora, Sem-pernas, Gato, Boa-vida, Querido-de-deus, Volta-seca, Pirulito... Miúdos de rua da Bahia, meninos feito homens que superam a ausência do carinho de uma mãe, de um adulto, a fome, a violência, a miséria, de uma só forma, ripostando com mais força...
Superada a inicial relutância na leitura desta edição em português do outro lado do Atlântico, mais por uma questão de estranheza que qualquer falso puritismo linguístico, vejo-me mergulhado num universo muito confinado que Jorge Amado tece ardilosamente.
A forma como os meninos são apresentados um por um, numa casualidade que só encontra justificação na assertividade da escolha do momento oportuno. A forma como entendemos o grupo como o conjunto dos meninos, sem que perca o espaço do indivíduo em si e por si. O final é o possível, estando a falar do final há tanto no início que ainda sinto versatilmente na minha mente. Uns vencem, para outros a questão da vitória é pessoal, mas todos cumprem os seus desígnios.
É uma crónica social brutal, dura, humana na sua mesquinhez, ingenuidade de sentimentos, na propensão sanguinária, mas acima de tudo real. Choca, pela impunidade da maldade pela passividade da autoridade, do clero...
Cada menino transporta inseguranças minhas, medos, receios, mas também orgulho, teimosia, espírito de sobrevivência, sentido de justiça...
A palavra escolhida seria coragem, coragem dos miúdos, coragem de continuar a ler o livro, coragem por não recear sentir!
Superada a inicial relutância na leitura desta edição em português do outro lado do Atlântico, mais por uma questão de estranheza que qualquer falso puritismo linguístico, vejo-me mergulhado num universo muito confinado que Jorge Amado tece ardilosamente.
A forma como os meninos são apresentados um por um, numa casualidade que só encontra justificação na assertividade da escolha do momento oportuno. A forma como entendemos o grupo como o conjunto dos meninos, sem que perca o espaço do indivíduo em si e por si. O final é o possível, estando a falar do final há tanto no início que ainda sinto versatilmente na minha mente. Uns vencem, para outros a questão da vitória é pessoal, mas todos cumprem os seus desígnios.
É uma crónica social brutal, dura, humana na sua mesquinhez, ingenuidade de sentimentos, na propensão sanguinária, mas acima de tudo real. Choca, pela impunidade da maldade pela passividade da autoridade, do clero...
Cada menino transporta inseguranças minhas, medos, receios, mas também orgulho, teimosia, espírito de sobrevivência, sentido de justiça...
A palavra escolhida seria coragem, coragem dos miúdos, coragem de continuar a ler o livro, coragem por não recear sentir!
Certo que lá chegarei, sem mais desculpas...
sexta-feira, 5 de março de 2010
Pausas pautadas
Give me a fucken break, kitkat moment, o que for preciso. Se isto é como andar numa montanha russa, porque raio esta descida não termina? Será que há mesmo nova subida?
Posso pensar que caminho
Mas é o solo debaixo de mim que se move,
Posso julgar que conheço
Mas tudo o que vejo surge reflectido num espelho!
A parvoíce prospera
A insignificância do desprezo invade-me.
Não sei
Não duvido
Não questiono
No entanto sei, duvido, questiono.
Realidade distorcida
Ânimo hipotecado.
"Yes we bellieve"
"O tio está demente"
Quero acreditar
Não quero tios dementes.
Não me faço ouvir
Então não merece que fale.
Relatividades, Einsteinices
Quantico, sem anti matérias
Eclético patético poético (jorra no micro)
Vidas são vidas.
Não resta magia
Pestanejo e a água não pára.
Já pautei,
Entrei no tom
Posso entrar no ritmo do universo
Exercício egoísta.
A pausa terminou...
Posso pensar que caminho
Mas é o solo debaixo de mim que se move,
Posso julgar que conheço
Mas tudo o que vejo surge reflectido num espelho!
A parvoíce prospera
A insignificância do desprezo invade-me.
Não sei
Não duvido
Não questiono
No entanto sei, duvido, questiono.
Realidade distorcida
Ânimo hipotecado.
"Yes we bellieve"
"O tio está demente"
Quero acreditar
Não quero tios dementes.
Não me faço ouvir
Então não merece que fale.
Relatividades, Einsteinices
Quantico, sem anti matérias
Eclético patético poético (jorra no micro)
Vidas são vidas.
Não resta magia
Pestanejo e a água não pára.
Já pautei,
Entrei no tom
Posso entrar no ritmo do universo
Exercício egoísta.
A pausa terminou...
terça-feira, 2 de março de 2010
Triste sabor de alegria
Tristeza, alegria?! Há algo que reside no meio, não sendo o meio uma distância que se mede entre dois batimentos do coração... O trajecto de um ponto ao outro é rico, é poderoso, equilibra. Melancolia é a minha medida, onde meço quem sou numa assimetria desconcertante que me deleita descobrir.
A melancolia é o casaco que não deixa entrar o frio, luz que não deixa chegar a noite, o açúcar que adoça as lágrimas, a música que se sobrepõe ao ruído, a cor que sorri no vazio.
Reside no meio, o que significa que a percorro no caminho de uma para a outra. É um jogo monopólio, com casa partida e casa chegada. A melancolia é a mesma, é luto, é preparação, é a marca de um fim, é o propósito de um princípio.
Estou exactamente no meio num sítio onde nunca antes estive. Faço o luto e preparo-me, é estranho... Se escolho um passo para a direita, direi que resolvi; se a esquerda for escolhida, significará que é o momento... Não posso simplesmente ficar no meio?!
Peço à solidão que me ajude, pois a melancolia me exaspera... Mas não tenho casaco e sinto frio, está escuro e é noite, sinto sal na boca, o ruído ensurdece-me, tudo cinzento...
segunda-feira, 1 de março de 2010
Farol de Sonhos
É noite, são noites. O singular e o plural, um só e todos. O começo não importa o final esse sim marca a diferença. Adormeço com a sensação de estar incompleto, acordo com o desejo, a vontade de ser melhor e mais além e atingir o equilíbrio e harmonia...
É como mergulhar num oceano azul turquesa. Está mesmo ali à frente, ao alcance do braço, mas estendemos e não tocamos, não atingimos, mão cheia de nada. Assim fecho os olhos sem que o ritmo cardíaco se tenha ajustada a um embalar discreto e suave, sem que os músculos atinjam níveis de relaxamento fluídos... Acordar pesado, ânimo inexistente e arrastar anímico dia fora.
Desperto em sintonia com o telemóvel que berra umas quaisquer notas de um slogan publicitário. A velocidade com que me levanto nada se compara ao sorriso que exibo no rosto. A viagem serve de retrospectiva para a sucessão de eventos que conduziu a tal despertar. A memória permite regressão até a um ruído "oco", de frequência aguda que se desvanece com um período harmonizado. Um farol...
Ouço-o. Não é para mim que ele lá está. Ele estoicamente luta contra sereias que atraem vertiginosamente marinheiros incautos, ao fim do mundo, ou pelo menos das vidas deles. Ingenuidade minha pensar em sereias...
Foi ele, certamente foi ele... transportei-o para outra dimensão e como gratidão, este conduziu-me, orientou-me e deu-me esperanças na mais temerosa das tempestades. Assim vivo os sonhos essa noite. Não me recordo, não preciso, ele sabe. Quando o ouço fecho os olhos e deixo-me embalar, deixo a respiração abrandar, os músculos relaxarem e deixo-me guiar como nunca...
Parto ousadamente em direcção ao desconhecido porque ele me trará sempre de volta a casa!
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