quinta-feira, 1 de outubro de 2009

O Homem que chora

Homem não chora! Ou será que chora? E O Homem, chora?
Predicados de uma educação que não foi a minha, mas que assumi como própria, enublados por aquele que vi como o primeiro exemplo, O Homem.
Uma perspectiva assombrosa do mundo, proporções imensas, seres estranhos, ruídos únicos, assustadores e apelativos, simultâneamente. Dizer que caminhava era abusivo, antes dava passos impelidos por tropeções e teimosia em não cair. Mas caminhava e o mundo era meu de conquistar, tivesse eu a coragem.
Deram-me a mão, colocaram-me ao seu lado, mostraram a origem de cada som, apresentaram cada animal estranho. Incutiu-me um respeito, um amor, um carinho e uma necessidade imensa pela natureza, pela agricultura, pelos animais, pelos princípios, ideias que suplantam qualquer religião ou constituição humana.
O meu avó é humano, o meu avó erra, o meu avó magoou quem o amava, o meu avó chora. Foi dura essa constatação e dura por ter aceite a mesma numa fase adulta na vida, naquela fase que os mitos da infância desapareceram todos, logo o que sobreviveu seriam leis absolutas da minha vida. Dura ainda porque tive só um avó, um só onde deveriam existir dois, e um só onde dois ainda existem.
Recuo ao que a memória me permite e vejo o homem que sempre chega e numa sabedoria imensa, marcada sempre num ritual de silêncio profundo que adivinhava sondar os mistérios de todo o sempre, resolve todos os problemas. Um homem que sabe o seu papel na natureza, um homem que ama os animais, cuida deles, faz o seu papel, mas obriga-os à reciprocidade, a vaca tem de dar o leite, as galinhas por os ovos e o porco morrer quando chega a sua hora.
Hoje, vejo-o vaidoso; que lindo é o meu avó Almeida. Quando aparece rouba-me os sorrisos, abraço-o, beijo-o e espero as lágrimas correrem pelo seu rosto acompanhadas pela questão: "estás bem Joel?"
Os seres não são intemporais, mas extravasam o número de vezes que os ponteiros dos relógios da vida rodam. O meu avó está comigo, sempre esteve, é um herói de carne e osso para mim, um dia que não esteja, ainda assim o estará, tal como O Homem que apresentou o mundo que eu desejo e amo, ficou lá atrás mas ainda existe, porque existe o que eu amo.
Quero ser super herói como tu avó, quero assumir as minhas fragilidades e os meus defeitos. Poderei eu roubar sorrisos a alguém e chorar, chorar, chorar?
Um sorriso melhor que mostrar alegria, esconde a tristeza. As tuas lágrimas não me roubam o sorriso, limpam-me a tristeza e o resto, o resto é o que me faz amar-te e desejar ser amado.

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