quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Parênteses


Morri, descobri que morri, descobri que morri de uma maneira que só hoje é possível. Perdi direito à vida quando me mataram no seu mundo, morri quando me deletaram das redes sociais. Deixei de pertencer a essa vida virtual, mataste-me, morri para ti...

Tudo é um parênteses quando não vemos the main picture; tudo são suspiros roubados a uma respiração em contínuo, breves instantes numa escala intemporal. Este parênteses começa pelo fim e termina no início, tendo as personagens permanecido na posição original. Quem mata dá à luz, quem deveria dar à luz mata. Afirmação descabida e simultaneamente paradoxal, simetrias num espelho, tal como o parênteses, repetem-se, complementam-se igualam-se mas em sentidos opostos.

O fim que é início abriu caminho. O início que encerrará ainda não encontrou o sem tempo, seja relatado o que existe no entretanto. Ambiguidades comportamentais e sentimentais, coroar de emoções no oposto do bem estar alheio...

Noite mal passada, não só pela consciência das dores, mas pela impotência de controlar o destino. O tronco é transportado no rio e no final está a serração; as horas passam e acordando vou trabalhar.

Agonia, tonturas, fraqueza, corrosão interna, tremores... Poderia ser uma qualquer causa de mal estar mental, mas é realmente físico e tem insentido na toxicação alimentar (porque não pode o in ser onde quero?!).

Um culminar de um processo que demorou um mês, habilmente planeado, orquestrado e executado dá o desenlace exacto que projectara à distância que o tempo me afastava, da realidade entretanto se encarregou de realizar. Um dos maiores êxitos profissionais quase ficava marcado a sangue de um mero outstander. Não terminou em tragédia, o sucesso foi garantido, que importa sacrificar um peão se o jogo é ganho?!

Não se insere, mas será que tudo o resto se insere entre parênteses?! Injecção com toxinas, soluções salinas, e corte da jugular. É impossível, não tinha movimento respiratório à auscultação, reacção da pupila. Lázaro o seu nome?! Certamente não porque cavalo não tem nome assim, mas supostamente morto, em espasmos dá sinais de vida num enterro que não conhece terra mas lixo, em que o coveiro não tem uma pá mas uma enorme máquina e que em vez de se mostrar insensível foge horrorizado. Sim horror é a melhor palavra para descrever este parágrafo, e daí talvez o anterior também.

No horror nasci, nasci depois de estar morto. Quem me matou deu-me vida, quem me fez nascer para além das virtualidades também lá estava. Tal como da primeira vez sinto o desconhecido, o frio, eclodem-me os gritos e as lágrimas. Antes morto daquela maneira que vivo desta forma. Exposto às mais bizarras peripécias de incrédulo realismo.

Porque me deste vida se antes me tinhas matado? Porquê tudo isto? Merecerei? Se tu não me respondes quem me responde, se eu não encontro a resposta?

Fecha-se o parênteses...

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Mealheiro de Emoções


Impõe-se uma imagem, preciso de um distanciamento imaterial para ter uma noção precisa dos contornos absolutos do que estou a sentir. O sentido é descendente, sufoco agonizante, similaridades com o momento de parecer às mãos de uma titã devastadora, quando é de nascimento que procuro um esboço do que fui e para onde quero ir, esquecendo onde estou.

A minha pele sente o toque gélido da temperatura, os ouvidos são invadidos por sons sem distorção, os meus olhos ofuscam-se com o brilho intenso, a boca não sabe o que fazer com a liberdade, o nariz timidamente decifra a esterilidade do novo ambiente. Com dor, com sangue, com suor, se soltam as lágrimas e os gritos. É de nascimento que eu falo; é a moldura que escolho quando me projecto no vazio e na segurança do lugar de espectador, distorço o retrato que teimosamente deslumbra um cenário de morte; mas é de nascimento que eu falo.

No percurso debato-me no lugar de espectador, pois inesperadamente a segurança é apenas aparente. O esforço de reconcialização com o quadro que escolhi ver, gera um passivo de emoções. Retraio-me, prostrando-me aos movimentos inatos dos meus sentidos. A lentidão insana desta letargia, arremessa-me num desespero arrepilante.

Nada parece ajudar-me a fazer frente a esta força que me suga numa espiral que não parece conhecer um fundo. Eis que, uma lufada de esperança abala os meus sentidos. A compreensão, o carinho, o respeito, amizade, o amor, chegam a mim em doses desequilibradas às necessidades, não necessariamente por escassez.

Os amigos, o meu cordão umbilical. Moeda a moeda, acumulei uma fortuna. Obriga a retórica a falar em figura monetária, quando o título precede o assunto, mas de valores só amizade é aqui julgada.
As emoções brotam desgovernadamente, água que apaga o fogo, alimento que mata a fome, calor que derrete o gelo.... De novo no lugar do espectador vos agradeço, a brevidade do momento só me permite dizer OBRIGADO e num ápice o turbilhão me leva.

sábado, 17 de outubro de 2009

Hemodiálise de Amor

O chão foge-me debaixo dos pés a uma velocidade superior à que corro para chegar a solo firme. Perco a esperança, quando é tudo o que tenho de manter, sinto-a abandonar-me quando deveria eu partir.
À distância de um esforço. Talvez se me esticar, talvez se saltar, talvez se me esforçar eu lá chegue. Salto, uma e outra vez, chegando mesmo a tocar. Salto incessantemente e a sensação de estar mais próxima é facilmente ultrapassada pela evidência que o cansaço me vence. Longe vai o momento que toquei o que desejava. Olho para a mão e todo o resto do meu corpo tem inveja daquela superfície de pele que teve, ainda que por breves instantes, contacto com o que mais desejo. Procuro um odor, procuro, uma textura, uma evidência nas mãos que me comprovem que toquei mesmo, não importa por quanto tempo, mas simplesmente que toquei. Preciso saber que existe mesmo, preciso saber que lá estará. Se ao menos eu saltasse mais alto...
Hemodiálise de amor, uma necessidade. Não tem verbo a afirmação; ser ou ter não sei, mas preciso. Preciso, 5 vezes pronunciei esta palavra até agora e muitas mais preciso de repetir, quando dar é o que eu quero. Preciso, 7 vezes, tirar cada molécula impura de dentro de mim. Cada átomo que me destroi, cada electrão que me impede de saltar mais alto, de acreditar que lá chego e mais importante, que existe mesmo o que preciso. Só aí no lugar do que sai, poderá crescer algo. Até lá preciso de fugir das setas do "escupido" esse cruzamento de estúpido com um cupido. E 9 foram as vezes que precisei, sem no entanto por aí terminar.
"I don't want it no more. Now that i see no escuses for what was gone before this all that i new. Now that you say we are not the same, any way, any way i don't want it no more. No more tears. No more lies, no more keeping things inside, no more pain.Time over takes time, the world is a mystory, look who is missing now. I can't back no more. There's a big part of me that you think you can see the things that you know..."

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Último suspiro de um sonho

Quando julgava que o trajecto estava traçado e nada mais havia a fazer, do que arcar com as consequências, a esperança surgiu de onde menos era esperada. As palavras proferidas foram assim para mim uma réstia de esperança, um balão de oxigénio quando se instalava o tormento da asfixia. O que não é pretendido, o que não é desejado é permitir que seja apenas uma miragem.
É óbvio este sentimento mútuo, é clara a possibilidade de felicidade conjunta, mas esgotou o tempo de o conseguirmos sozinhos. Apavorado, assustado, receoso, sinto-me sem forças, perdido, só e impotente para mover um músculo capaz de despontar a acção mais simples que poderia resolver tudo.
Onde se esvai a minha força, deverá a tua força suplantar a inércia que nos afunda. Procurar ajuda, conversar, desabafar, seguir conselhos, tratar, com a certeza que a minha força se regenerá por si só. Chegou o momento de apenas necessitar um refúgio num qualquer espaço, e num só tempo, para colar os pequenos pedacinhos do que outrora fui.
Se o papel e a caneta são uma ferramenta de comunicação, como as pontes são obras de engenharia que unem margens, usa as palavras para encurtar distâncias, ou em contrário deparar-me-ei com vazios.
O livro está aberto, dói por ser um diário, dói por serem sentimentos e por terem um rosto que imita os nossos movimentos num espelho. Que se escrevam as primeiras palavras e que sirvam para unir duas pessoas que se amam e não para apagar o papel numa simples mancha desordenada de tinta...

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

O Homem que chora

Homem não chora! Ou será que chora? E O Homem, chora?
Predicados de uma educação que não foi a minha, mas que assumi como própria, enublados por aquele que vi como o primeiro exemplo, O Homem.
Uma perspectiva assombrosa do mundo, proporções imensas, seres estranhos, ruídos únicos, assustadores e apelativos, simultâneamente. Dizer que caminhava era abusivo, antes dava passos impelidos por tropeções e teimosia em não cair. Mas caminhava e o mundo era meu de conquistar, tivesse eu a coragem.
Deram-me a mão, colocaram-me ao seu lado, mostraram a origem de cada som, apresentaram cada animal estranho. Incutiu-me um respeito, um amor, um carinho e uma necessidade imensa pela natureza, pela agricultura, pelos animais, pelos princípios, ideias que suplantam qualquer religião ou constituição humana.
O meu avó é humano, o meu avó erra, o meu avó magoou quem o amava, o meu avó chora. Foi dura essa constatação e dura por ter aceite a mesma numa fase adulta na vida, naquela fase que os mitos da infância desapareceram todos, logo o que sobreviveu seriam leis absolutas da minha vida. Dura ainda porque tive só um avó, um só onde deveriam existir dois, e um só onde dois ainda existem.
Recuo ao que a memória me permite e vejo o homem que sempre chega e numa sabedoria imensa, marcada sempre num ritual de silêncio profundo que adivinhava sondar os mistérios de todo o sempre, resolve todos os problemas. Um homem que sabe o seu papel na natureza, um homem que ama os animais, cuida deles, faz o seu papel, mas obriga-os à reciprocidade, a vaca tem de dar o leite, as galinhas por os ovos e o porco morrer quando chega a sua hora.
Hoje, vejo-o vaidoso; que lindo é o meu avó Almeida. Quando aparece rouba-me os sorrisos, abraço-o, beijo-o e espero as lágrimas correrem pelo seu rosto acompanhadas pela questão: "estás bem Joel?"
Os seres não são intemporais, mas extravasam o número de vezes que os ponteiros dos relógios da vida rodam. O meu avó está comigo, sempre esteve, é um herói de carne e osso para mim, um dia que não esteja, ainda assim o estará, tal como O Homem que apresentou o mundo que eu desejo e amo, ficou lá atrás mas ainda existe, porque existe o que eu amo.
Quero ser super herói como tu avó, quero assumir as minhas fragilidades e os meus defeitos. Poderei eu roubar sorrisos a alguém e chorar, chorar, chorar?
Um sorriso melhor que mostrar alegria, esconde a tristeza. As tuas lágrimas não me roubam o sorriso, limpam-me a tristeza e o resto, o resto é o que me faz amar-te e desejar ser amado.