O ser humano nasce e perante ele se prostra um mundo de possibilidades, de infinitas descobertas. Cresce a aprender, a conhecer, a explorar, desenhando o seu mapa e traçando novas fronteiras. De início usa todos os seus sentidos; os olhos para saber o que pretende alcançar, seduzido por cores, movimentos e formas; os ouvidos para entender entre o indecifrável desejo dos progenitores em comunicar, se se tratam de estímulos para prosseguir ou de alerta; os rudimentos da fala que exteriorizam mais de que vocábulos, mas sons de pura orgânica, anunciando a sua presença; o tato e o nariz, ainda presentes pela boca, pois a criança tudo cheira, tudo toca, levando simplesmente à boca.
O desejo de refúgio, de segurança é superado pelo desejo da aventura, da descoberta, do alargar de horizontes. O conforto, a comodidade, a segurança do refúgio está lá, bem presente, sempre de braços abertos.
Cresce o ser humano e a cada descoberta, a cada traço no mapa exponencia-se a sensação de vazio. Desvanece-se o entusiasmo, surgem as dúvidas... A teimosia de não desistir sempre empurrando em frente, trás a dada altura a consciência da dimensão ridícula que cada um na verdade tem. Escala de tempo e espaço de dimensão reduzida, na vastidão do que há ainda por descobrir.
Os ouvidos nada parecem escutar, a boca fala da mente em línguas que ninguém parece compreender, o cheiro captado é irreconhecível, os olhos fecham-se pois não querem olhar para lado algum, como que impedindo assim a progressão. As mãos essas, as mais insanas, abrem-se em toda a amplitude, num gesto de generosidade e no rosto procuram tapar boca, olhos, ouvidos e nariz...
Num rasgo de coragem, olhando em redor procura-se o conforto. Sim ele, onde está? Em mares tenebrosos procura o farol que te encha de calor, de energia, de esperança. Segue-o, ele consegue trazer-te de volta, de regresso ao refúgio...
Encontrar o equilíbrio entre o conforto e a descoberta é a chave do indomável espírito humano. Os que do conforto prescindem, nada farão com a descoberta. Quem não se liberta do conforto, já mais descobrirá o seu lugar e o sem tempo, embora porém possivelmente mais felizes pois a sua dimensão é a que escolhem ter.
Sai, aventura-te, descobre, arrisca, vive e sente! Encontra o teu farol, mantenho-o sempre presente, mesmo que te surja pelo canto do olho como uma imagem desvanecida e desfocada. Assim que a dor, o cansaço, a saudade, a tristeza surgirem, vais querer voltar ao refúgio!
In Letras do Olhar em 17 de Maio 2014
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