Duas árvores e um banco, uma distância e dois seres vivos.
Imóveis, estáticos, cheios de vida, com desejo de florescer numa altivez de clorofila.
Distância guardada por um objeto antrogênico, com resquícios de materialidades, ora vivas que o foram apenas em memórias de experiências passadas.
Porém braços tocam-se, embalando as folhas com a suavidade, desculpa da brisa que sussurra cumplicidades partilhadas. O banco esse trás o conforto, não sem distanciar na vergonha da preguiça de passados defuntos.
A distância é o convite à pausa, ao conforto, à contemplação. Para lá da colina ergue-se uma superfície de oportunidades, cujos braços tão juntos que as mãos se dão, conseguem antever um movimento de perpétua inércia. Não se movem mas poderiam-o fazer; ramos que são braços, braços que são asas, e o prado verde transforma-se num céu azul prestes a ser rasgado pela energia inebriante de dois seres vivos ora árvore, ora distantes.
A primavera e a vitalidade, folhas e mais folhas. Desvanece-se a distância, desaparece o banco entre toque de braços que se funde num abraço. Não há conforto, não tem de o haver, mas o banco, a distância, essa persiste e está presente.
Os outros momentos sazonais são amenos em termos de proximidades. Os outros, pois falta mencionar inverno. Parte o fulgor, esvai-se a energia, sucumbe a cor, prevalecendo apenas a forma do banco. Materialização de distâncias.
Asas, braços, ramos, ser vivo... Dois uno, simplesmente regredindo em dois indivíduos. Brisa é substituída por feroz vendo que suga os últimos resquícios de energia em forma de folhas de tons envelhecidos, provocando agressivos estocadas entre ramos.
Só o banco não muda, apenas a distância não se altera. Ciclos intermináveis, que não cessam à escala temporal de duas existências. Traço de escrita cinzento, pois os seres vivos retratados não só terão braços no lugar de ramos, como pernas no lugar de raízes num antropomorfismo ímpar.
Porque terá o "jardineiro" as plantado tão longe e porquê o banco?
In Letras do Olhar 22/04/2014
In Letras do Olhar 22/04/2014
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