Gingar de anca, abraçado no encarnado do que está por despir. Roupas não têm lugar na dança das nuvens.
Pé ante pé, uma mão segurando o abismo, a outra balbuciando convite para aproximar. Desafio, ou ameaça? Aproximar, ou seguir sentido oposto?
Encantamento do olhar, focado num rosto que se resguarda, onde o cabelo reforça a forma do mistério.
"Tens de largar a mão!" Eis o que anseia ouvir, quando o tempo sente, o espaço deseja e a solidão se apodera. Solidão, essa forma monstruosa da miséria humana.
Não é de solidão que se trata, não aquela que se define pelo oposto à presença próxima de alguém ou algo. Serenidade rítmica, apelativa ao olhar num salto de fé, onde o abismo é vencido pela força magnetizante do horizonte, oferecido pela mais pura das danças.
Bailarina que fazes dançar, ninfa dos tempos modernos... já és vista, já és sentida; os sentidos despertam, a mão é agora agarrada, a outra liberta-se para fechar a janela.
Que a dança se inicie, com a sofreguidão da primeira golfada de respiração após um longo coma. Nas nuvens se sentem - nas núvens- pois no solo não há essa possibilidade!
Na janela que tudo mostra, apenas tu és vista!
In Letras do Olhar em 25/04/2014
In Letras do Olhar em 25/04/2014