sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

Sem chama

Feliz eu não sou. Sinto-me indecifrável, insondável na minha exposição aos sentidos. Só despropósitos, deixando-me apoderar pela raiva. Ela, a raiva, toma conta de mim, a vista fica toldada, sufoco de angústia.
 
Vivo pela promessa de vida. O tempo escoa e nada fica por sonhar, tudo fica por viver. Mas que porra, que porra.
 
Se ao menos contasse para algo, se ao menos esta adolescência de sentidos me trouxer um amadurecimento; se ao menos eu não me tornar como tu... Poderei odiar o que não sou, estando-me a tornar naquilo que quero ser?!
 
Sinto-me perto do horror que me foi previamente anunciado... É isto DB?! É isto?! É por aqui?! Abrace-me com esses braços torturados pela idade, com a força que só a experiência de uma vida transporta. Simplesmente abrace-me, entregando-me ao destino por detrás da cortina que abriu, para um palco que não desejei atuar...

quinta-feira, 22 de novembro de 2012

Do nada

Porque querer ser tudo quando já temos o nada?!
Sim estou, estou feliz!
Surgiu do nada. Estou feliz. Do nada...
Nunca fui mais do que sou agora,
Mesmo nada mais.

Perdigotos de palavras desconexas.
Escrita que desata nós na mente,
Permitindo respirar um cérebro em morte social.

Não quero ser nada,
Quero ser vazio,
Não quero sentir nada.

Tudo é infelicidade
Nada não é tudo
Se feliz estou
Não sou tudo
Mas não sou nada.

Merda para isto que persigo algo que não alcanço e está ali, mesmo ali tão perto...

sexta-feira, 28 de setembro de 2012

Pensamentos Outonais

Eis que ali estou na partilha de um diálogo de silêncio. Ele nada diz, eu nada ouço! A simplicidade do silêncio imediatamente é perturbada pelo arrojar de pensamentos complexos. A protagonista da distração, essa desviadora, a alegria ingénua da brincadeira três adolescentes, sem lugar para mais um, sem lugar para mim.
 
Estico as pernas numa posição mais confortável, bebo mais um trago de cerveja, elevo o olhar e antecipo a quedas das folhas que parecem pacificamente manifestar-se pela mão do vento e... E sinto-me percorrer memórias! Já não somos mas éramos. Éramos para sermos mais, mais nós mesmos, numa alegria de insensata simplicidade. O que aconteceu então?!
 
Aconteceu que crescemos, crescemos e não demos contas. As folhas sou eu, o vento os adolescentes. Está por dias, por dias e o meu ciclo terminará, tal como as folhas eu cairei... Queria recomeçar tudo e poder dizer-me que o meu tempo, o melhor até à data pelo menos, é aquele e nele poderia ficar sem mais desejar.
 
Do passado passei para o futuro, sem me dar conta do meu presente. É isso, é mesmo isso, eu não cresci, vivo fora de tempo. Refugio-me dos problemas, quando não tenho nenhum. Não tenho problemas, tenho apenas preocupações. O problema verdadeiro é a forma como lido com as preocupações...
 
Retraio as pernas, mais um trago de cerveja, prendo os olhos e a mente. Num gesto involuntário inicio nova conversa e um calor de Outono invade-me. Ele diz pouco, mas eu ouço tanto!
 
Caminhando uma ligeira resistência debaixo dos pés, emoldurada por um som facilmente confundível com agonia, apercebo-me que calco folhas caídas. Penso por elas, tudo recomeçará a primavera regressará e o tempo será novamente vosso. A minha primavera ainda não terminou e só tenho que me forçar a recordar isso todos os dias.
 
Quando me pisarem estarão a dizer-me que haverá um recomeço!

sexta-feira, 7 de setembro de 2012

Desilusão

Desilusão, que poderosa palavra esta e que avassaladores os sentimentos que desperta.

Reviro-me, contorço-me, extasio-me, enfureço-me! Curiosamente não me questiono, porque sei, sei que é essa a natureza humana. Agora sinto-me, agora tiro os tranquilizantes sociológicos, agora sim, agora abraço a causa do genocídio, porque reles são todos eles, imerecedores, ingratos!

A fúria passa, sinto-me pequeno, invadido por um sentimento de impotência, desespero e solidão. Mas porra porquê?! Os porquês depressa me invadem.

Encontro descanso na insónia, alimento na fome e equilíbrio na adrenalina!

Não deixo ideias por concluir e tudo exclamo. As interrogações, o ódio! Foda-se para todos vocês, nas certezas dadas encontraram as fragilidades, no apoio a camuflagem, no respeito a oportunidade, na frontalidade a mentira... Já não consigo exclamar!

Filhos da puta daqueles que me querem obrigar a ser o que sou!!!...

terça-feira, 14 de agosto de 2012

Sentimento

Sentimento é uma plasticina que moldamos para a forma como queremos que os outros o percepcionem.

Não deixa de ser o que é, mas nunca é o que dizem ver.

Bastaria que deformassem os vícios de interpretação e a plasticina tomaria o verdadeiro sentimento, sentimento esse que busco esconder!

Que bem escondi ele está...

quarta-feira, 8 de agosto de 2012

Motivação

Mas que raio?! Que raio... A nascente não secou, o rio é que perdeu o seu curso. O comentário surgiu como que um alerta que a barragem se aproxima perigosamente do seu nível máximo. Tenho de libertar tenho de deixar sair...

Tantos e tantos temas, imensas incertezas, percalços, inquietações me assaltam. Sem desmoronar a frágil construção da integridade exterior, inicio a já habitual viagem e não menos habitual encontro a desculpa: não me apetece fabricar essas palavras, esses sonhos essas emoções. Se ao menos a Fábrica das Palavras, se ao menos...

Sem desculpas, sem compromissos, mas envergonhadamente inicio para descobrir a responsabilidade e o risco de escolher um ponto de partida e um de chegada, com receio de perder no caminho. Ora bem, a Motivação, seja ela,venha a mim a matéria prima das palavras que de sonhos inconcretizados e emoções melancólicas.

O mais engraçado é que espreito os outros e vejo pelas palavras fabricadas um mundo de zombies. Nada de crises, nada de troikas, , nada de desemprego, nada de lamúrias, nada de nada.

Jogos olímpicos, falta de medalhas, habitual resignação e pessimismo português; o que contará mais uma medalha ganha por uma brasileira naturalizada portuguesa, ou um cavalo português montada por uma qualquer outra nacionalidade?! Nem isso, mas ok estamos em Agosto e a fábrica já terminou esse lote.

Férias, falta de férias, as que foram e as que ainda serão! Nada mesmo nada, estranho mundo de zombies. Para quê produzir palavras que ninguém consome, para quê? Mas, talvez não um mas, no entanto também não o concluindo, que não conclui. Ia dizendo?! Ia dizendo nada, não tenho de dizer nada com sentido, não me sinto motivado, não há motivação.

Não tenho motivação. Tento redescobri-la todos os dias. Faço passagem de dias como se faz passagem de anos. Amanhã, sim amanhã farei, sim amanhei realizarei, sim, sim, sem dúvida sim. Não, não, o amanhã passou a ser ontem e nada mudou. Procuro a motivação, procuro concretizar os sonhos, obrigo-me a sonhar. Se calhar deveria estar a escrever sobre a desmotivação, mas não me diz a sombra o que é a forma original. A minha desmotivação é a sombra dos sonhos inconcretizados e das emoções melancólicas, mas agarra-me a algo e é a motivação que preciso para avançar.

Olhos postos na sombra, retiro-me novamente como a fábrica e vejo os meus pares. Atrevo-me a julgar-me um deles e sinto-me integrado...

Sacia-me parte da fome motivacional a "deliciosa ambiguidade". Talvez seja isso, talvez...

segunda-feira, 23 de julho de 2012

Silêncio

Não, não o faças... Fazes e eu não respondo. O que responderia não ouvirias, o que procuras ouvir não te serve.

Agora eu, eu, eu calo-me...

Pudesse ouvir os meus conselhos e o silêncio ecoaria no meu espírito. Não me serve, não me ouço.

Registo a incoerência, sorvo o silêncio do ruído!

E isso sou eu, um ponto entre dois mundos buscando um outro que me leve a traçar uma fronteira...

quinta-feira, 31 de maio de 2012

o Eu de hoje

Alinhem-se as palavras, quero falar! Ouviram, ouviram bem? O que vos digo? Ah não ouvem... Não ouvem porque não sentem, rejubilam quando enfureço, entristecem-se quando o peso da infelicidade não me pesa nos ombros.

De que me serve a lingua se a movo e nada faz, nada ouço, nada digo?! ocupa espaço, espaço que posso peencher com comida, comida essa que alimenta o corpo, quando as palavras falharam em alimentar a mente.

E isso sou eu, uma enorme ocupação de espaço que não serve para nada que não seja o que ainda não descobri! E isso sou eu...

quinta-feira, 17 de maio de 2012

Eis que posso parar de começar o que nunca termino... Eis que olho em frente e vejo letras só letras, mas quem as pôs assim, quem? Como que caminhando sem chegar a lado nenhum, letra por letra sinto-me desentorpecer e afloram em mim o que julgava adormecido.

Tão simples, tão libertador, tão simples! Encontro-me agora no centro do tornado, à minha volta tudo rodopia numa ferocidade de movimento mas inaudível. Com clareza chego a parte do todo, apenas pela soma todas as partes. Tão libertador, tão simples, tão libertador! Porque não me permito partir assim?! Porquê? O passo é lateral mas o movimento frontal, as ideias cruzam-se em aparente descoordenação, mas... mas não quero chegar a lado nenhum.

Fui jardineiro, sinto querer ser. Sou filho sem pai saber ser. Sinto não ser o que desejei ser. Conquistei um passado, confundo-me no presente e baixo os braços perante um futuro que sinto não desejar.

Vezes sem conta vi-o cair e ele caía... Agora ele sou eu e caio, como eu caio. Não não quero voar, não não há pesadelo de que me possa evadir com um simples abrir de olhos. Não estou assustado afinal eu sou ele, e ele já era eu ainda antes de ter vindo a este mundo. E o ele antes dele?!

O meu avô partiu ele partiu. "Estás aí?! Devia chorar-te, mas não sinto que precise. Espera vou chorar... Não só ia chorar da mesma forma que se vê um filme, é triste, mas é um filme. É triste mas não estou triste."

 É o meu avô mas nunca o soube ser e agora com a sua boina, pele fria, desprovido de cor e pouca carne abraçando os ossos é um boneco sem ação. Podia ser a criança que pega em ti e te dá a vida possível de boneco. Sim faço isso, já o faço vives a cada lufada de ar que tomo, a cada piscar de olhos, a cada lágrima que fica por derramar. Tudo porque tu és ele, ele sou eu e todos somos o mesmo.

Como te guardo na mente, onde falta carinho não há ódio, apenas talvez frustração por não me teres deixado simplesmente lá estar. Penso em ti e não tenho de ver a foto assinalando a tua morada. Estranho mas não, penso em ti e vejo-te alegre sempre tu mesmo, sempre um estranho que enquanto e que me fazia tremer de medo em fechar os olhos, com receio que a cada abrir te afastasses até que desaparecias. Sabes que mais?!

És importante para mim e pensando em ti, na forma digna que escolheste partir, no beijo de despedida e a tristeza não é do filme e para ser eu, para ser ele, e para sermos os três o mesmo, sinto que não ficará lágrima por derramar.