segunda-feira, 8 de junho de 2009

A puta...

Aspecto frágil, ar tímido e envergonhado, passos incertos tentando esconder o nervosismo. Análise precisa numa fugaz passagem de carro. O que os olhos apreenderam em segundos, a mente processa em longos minutos, para chegar à sintonia conclusiva com a visão.

O motivo porque lá está, cada vez é mais óbvio e a certeza é sublinhada pela frequência das passagens posteriores, cruzando com o mesmo cenário. É magra, sem compleição física para os serviços que se propõem vender, vestes discretas e atitude denunciadora de inexperiência.

O local é ermo como tantos outros e como o fim o obriga. Isolado, mas próximo. O quadro inicial vai-se diluindo nas horas sentada, aguardando abordagem. Não desaparece nem a vergonha, nem a timidez, nem a fragilidade, apenas são escondidas. O passo deambulante é trocado por cigarros, revistas e telefonemas. O olhar já se cruza pelos veículos que passam, em busca de uns quantos euros ou de quem a tire dali para fora. Atitude muda mas não a pessoa, embora não seja a mesma, ainda o é.

Assim eu lá passo e assim ela lá está. Tropeção da vida, caminho sem saída, necessidade impulsionadora do desespero; não importa o motivo, importa saber porquê os irmãos, o namorado/marido, os pais, os amigos, não estão lá para ajudar a levantar. Importa saber porquê não estamos lá para erguer os nossos irmãos, namorados, pais, amigos, porque morre um pouco da humanidade no desespero do próximo e somos cada vez mais como somos...

É a puta da vida...

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