quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

A lágrima hoje

Hoje escrevi assim: "A lágrima que falas, essa lágrima que tantas vezes me falta. A lágrima ausente e que teima em não se precipitar pelo meu rosto abaixo. A lágrima que tudo lava, a única capaz de apagar a tristeza e a solidão, a única que nos compreende e abraça pois é parte de nós e perde-se, sacrificando-se para que saciemos a dor e a ansiedade pela ausência do que me faz sorrir..."
 
Sim essa lágrima; mas de onde surgiu ela e porquê hoje! Como sempre e como quando preciso, pelo percorrer do caminho da memória. Não o virtual que apenas acontece na mente, mas o físico e físico é mesmo o caminho que percorria em infância. Pequeno, quase grande, maior mas ainda não grande. Não grande como julgo me ter tornado quando precisei de regredir ao espaço da memória, para sacrificar a lágrima que me salva de tempos a tempos.
 
Nesse mesmo percurso mas agora não pequeno e a pé, mas grande e de carro, passo (presente e não passado porque ainda lá estou), pelas ruas da minha infância e onde outrora existia liberdade, erguem-se agora portões e muros. Não faz qualquer sentido, porque nos cercamos e isolamos do mundo físico? Será para permitir o despudor da exposição sem limites no mundo virtual?
 
Nunca como agora a liberdade nos foi castrada. Terminaram os espaços abertos, os miúdos a correr para casa no final da escola, sem os progenitores recearam inocência roubada. Onde estão os jogos de futebol que eram interrompidos e os postes das balizas afastados para passarem os carros?!
 
A ânsia de esperar cruzar com alguém conhecido, para que naquele particular dia em que estamos fatigados, nos possa dar boleia, está onde? Saudades essa palavra ímpar, saudades de apanhar boleia de alguém ou a alguém retribuir. De trocar os telefonemas sem sentido para ocupar os trajetos sem fim, por uma conversa real, com alguém real e não com uma voz que parecemos reconhecer mas que chega até nós sem compreendermos.
 
Ontem, já ontem dizia: "nunca me arrependi do passado, mas sempre me arrependo do presente!" Disse ontem para hoje sentir isto. Como todos os nuncas, também este o perco no infortúnio das certezas humanas, perco-o para arrepender apenas de não ter pulado mais muros antes de serem intransponíves; de abrir mais portões enquanto estavam apenas encostados e não fechados a sete cadeados; de dar e receber mais boleias...
 
E hoje a lágrima uma vez mais sacrificou-se. Saí da rua, deixei o passado e volto ao presente para me arrepender, mas sem nuncas...

1 comentário:

  1. Muros e cadeados são ferramentas de proteção criados por cada um de nos por motivos pessoais, certos ou errados...
    O passado é o presente que escolhemos em cada dia, e nunca não existe. Como não existem impossíveis, para o que depende de nós, quando realmente queremos algo. Por vezes é necessário ser mais criara pontes e ser mais alto que as próprias muralhas..

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