Eis chegada a hora. Coragem!? Coragem não, cobardia sim... Julgara a coragem mais difícil que a cobardia, quando o oposto se prostra perante mim, numa dor sem refúgio!
Preciso, tenho, devo... Não sentir, não ver, não ouvir... Encerro os olhos, tapo os ouvidos, fecho a boca... Não vejo, não ouço, não falo...
Nada, mesmo nada, não digo, escuto ou deslumbro o que quer que seja. Vazio, só isso, apenas o que preciso em contra posição ao que desejo. Desconstruo tudo em meu redor e só aí julgo possível, espero possível, desejo possível... Mas o quê?! Eu, o quê sou eu. Chegando o momento de ver, ouvir e falar, se possível estarei lá eu, vendo-me, escutando-me...
Dita-me a música: " Que dia perfeito, continua a aguentar-te. Que dia perfeito, os problemas não têm de ir... Fizeste-me esquecer a mim mesmo e pensei que era outra pessoa, alguém bom..." E que sentido faz? Todo, todo o sentido verdadeiramente, pois na preguiça de sentir, deixo-me sentir pelas palavras de outros. Mais fácil, pois no final da música bem o silêncio, no final do livro voltamos a contra capa, na imagem desviamos de olhar, e tudo se desvanece. Então porque por mais tempo que mantenha os olhos cerrados, os ouvidos tapados e a boca fechada, quando os abro volta o que a cobardia deu lugar?! Onde estou eu?
És o meu farol e a minha âncora. Orientaste-me na tempestade mas agora prendes-me quando de partir eu tenho. Tão fácil ter coragem, tão fácil comparado com isto. Nem farol nem âncora, tenho de continuar a abraçar a cobardia até que seja tão fácil e aí me saberei corajoso.
Mas e agora, qual o meu caminho?! Posso não falar, não ouvir, não sentir, mas penso, penso demasiado. Assim nunca me encontrarei, terei sempre receio da cobardia e continuarei a aguentar mais dias perfeitos como este...