sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Conversar com as palavras

Oponho-me a iniciar com uma pergunta que mais não é que a resposta com que os pensamentos me questionam.

Escrever é conversar com as palavras e eu preciso de ouvir o que as palavras me dizem. Espero da imagem refletida do espelho uma verdadeira imagem de mim. Mas é falso, é falso não é nada daquilo. Recebo imagem de tristeza mas os sinais que dão são de alegria. Não pode ser...

Os sintomas não têm cura. A doença nada faz, apenas observa. Doente, sinto-me doente, como um inverno gelado do norte, mas os sintomas... Os sintomas esses não mostram doença, então não tenho cura, mas sinto!

Converso, converso, vejo as palavras surgirem letra ante letra com um curso sempre a fugir. Não sei de onde vêm mas surgem. Os dedos primem numa aleatoriedade inconstante teclas qwertedianas e os sintomas apaziguam. Ainda os sinto, ainda estão lá, já não penso na doença.

Converso com as palavras e elas escutam, escutam... Noto nelas cada vez mais indiferença. Como? O quê? Não vos ouço. Não as consigo ouvir, perdi a vontade de conversar. Aí estão eles, sinto-os; estou doente...

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Prazo de validade

"Como tudo na vida, este blog tem data de validade. Todos estes posts servem como um histórico virtual de muitas histórias, sensações vividas por uma "sobrevivente da crise"(...)" Assim leio num dos blogs que sigo e reencostando-me na cadeira, transporto para a minha própria realidade esta sentença.

A primeira análise é simples, não tenho qualquer motivo para continuar como prova o silêncio cada vez mais prolongado, mas também não me assaltam motivos para encerrar por aqui e a provar as numerosas sementes de ideias e sentimentos que se amontoam na minha mente, à espera do momento certo para tomarem forma.

Por aqui escolhi ser triste, ser alegre, ser tudo e não ser nada. Escolhi quase sempre ser só, pois sozinho sou personagem nas minhas próprias estórias, enquanto na multidão mas não sou que um figurante em imensas estórias nas quais não escolhi participar.

Não me creio feliz. Devia-o ser, mas não sou. No entanto sou feliz que quase sempre e poucas vezes fui mais feliz. Devia sei que devia, mas... Não sou grande coisa, mas sou eu!

Consigo escrever agora porque tento sentir, numa leitura de braille, seguindo de olhos fechados num universo de formas macias, com pontas aguçadas aqui e ali. Por pintar a preto e branco, não significa que não veja a cores. "Sigam o meu traço mas não me roubem a alma, escolham as vossas cores todas"; assim fui gritando em silêncio em todas as linhas.

Não vejo motivos para terminar, não vejo motivos para continuar. Vou seguindo sem propósitos, vou vivendo, vou sentindo. Menos movimento e mais ser, assim o alvejo.

sexta-feira, 15 de julho de 2011

O tolo

Que saudades, nem me dei conta, que saudades... Agora que estou, agora que dentro de mim o sinto, mergulho na descrição dos prazeres com que sou deleitado pelos sentidos. Um suspiro que traz uma respiração e me rasga por dentro, pois bem dentro estão as correntes que suprimem este grito. O grito avoluma-se, agiganta-se, estremece-me e torna-se inaudível.

Porque são sempre os motivos para não e nunca os motivos para sim que prevalecem? Sim sinto-me tão invadido, sim sinto-me tão parte da multidão. Já não tenho capacidade de geral humanidade, não agora, não para já. Três nãos dois sins, a minha resposta veio com a saudade como a chuva vem com os relâmpagos, como as trevas vêem com a noite, como a paz chega com a morte.

Morrer para nascer. Não me lembro de ter morrido, mas sinto que nasce alguém que não sou eu, nem sei quem ser. Muitas vezes ocas são as palavras e inconfundíveis os suspiros e no entanto, no entanto não faço, não mudo, não ajo. E sim quero nascer novamente, pelo que preciso de morrer.

É a estória de um tolo que um dia sonhou ser tolo, sem saber que já o era e terminou rei. Hoje sinto-me mais perto de morrer e menos rei, não hoje, não maior parte do dia, mas sim agora, agora sinto-me mais feliz.

quinta-feira, 19 de maio de 2011

Parabéns

É agora, pouco falta. Pouco falta quando muita gente julgou saber nada faltar. Vim sozinho e 33 anos depois sozinho estou. Era sem Facebook, sms, chamadas telemóvel. Era, era sim agora sou tudo isso, mas agora não tenho nada e nada são 33 anos após em que me expulsavam do meio que conhecera durante 9 meses e que acolheram as minhas primeiras células, traçando o resquício do que fui para ser.

Passados e presentes, futuros quem sabe. Até alguns que não sendo passado, não estando no presente, não sei que papel me esperam no futuro. Estranho é que o que me consome as células nervosas, este bilhete para uma viagem de abstracção quase completa, me tenha sido presenteado por quem passou onde eu passei e cujo sangue me diz: Irmãos. Irmãos depois, porque agora 33 anos atrás era só sozinho.

Não me sinta só, não me sinta pretensioso. Sinto-me sim enjaulado neste colete de forças que me trespassa a fúria de fuga.Sei que a idade não legitima nada, apenas desculpa. Sei que necessito de metade da arrogância e o dobro da humildade.

Humildade me foda e arrogância me coroe, mas foda-se vim só e só irei.

Parabéns Joel, parabéns.

terça-feira, 5 de abril de 2011

Tempo de pensar

Quando a sombra é mais genuína que eu, que mais poderei ser, que uma escassez de ideias encerrada num despropósito de existência?!

O ruído que me rodeia impossibilita que pare, que ouça, que veja, que me oriente. Não sei pelo que estou, para onde vou. Tenho de parar, tenho de não escutar, não falar. Simplesmente tenho de não ser, para poder voltar a ser algo.

É no vazio que posso distinguir as cores, as formas. É na ausência de forma que as ideias tomam mais dimensão. Perdi o caminho, perco o caminho. Perdi noção da materialidade do que realmente interessa, perco o interesse no que me deveria cativar.

O tempo passa sem perdão como areia pelos dedos da minha mão aberta. "Logo... Logo não, amanhã. Amanhã de certeza... Se não amanhã, para semana não passa!" Com este holograma de decisão adio o que tem de ser feito. Tenho, preciso, é urgente. É urgente, preciso e tenho de parar. Parar para pensar.
Simplesmente parar, limpar a mente, sentir o presente sem compromisso. Sentir o sol no rosto, a harmonia sonora do crepitar das ondas na areia, a textura da maresia na boca... Os olhos, esses não perscrutam nada, não são portas de entrada mas sim de saída. A boca é a mais activa mas inaudível.

Pensar é meditar, abstrair de tudo, ser impune em pensamento, não ser regido por leis da moralidade, da física, nem por quaisquer ditames humanos. É conjugar o presente com um convite para o passado se juntar, para que juntos nos seja mostrado o melhor futuro.
É tempo de pensar, tenho de pensar, tenho de parar...
Depois poderei questionar: "Agora sei onde estou, mas estarei onde julguei estar? Onde estarei depois?"

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Novo Ponto de Partida

O novo ponto de partida não é desafio. Como sempre não parto para chegar, mas chego para partir. Uma estória, um ponto, uma viagem empreendida vezes sem contas em espírito. Emprestasse-me a estória, sem preciosismos contidos em aspas e com o desprimor do encontro fortuito, numa qualquer corrente de emails de autoria desconhecida.

Em substância comparam-se três pilares da vida social do indivíduo. Um balde cheio com bolas de golfe, está mesmo cheio? Para alguns estará, mas facilmente se despeja areia que irá preencher o espaço deixado. Estará cheio aí? Entornando um café facilmente descobrimos que há sempre espaço para mais. Diz o autor, num jogo de simples analogias, o balde é a nossa vida e o que ela pode conter; as bolas a nossa família, o trabalho areia e o café a amizade. Se preenchermos a nossa vida com trabalho, não haverá espaço para nossa família e para os amigos há sempre tempo para um café...

Onde está a minha areia, onde estão as minhas bolas de golfe, porque não derramo o café? E mais importante, deverá ser esse o conteúdo da minha vida?

Viverei até quando? Até aos 74 talvez, se usar a estatística. Uma régua de 74 cm diz-me o que já sei mas que me dificulto entender. Em breve marcarei 33 cm nessa régua. Ao lado esquerdo do meu polegar esquerdo, o que eu já vivi, ao lado direito o direito que a estatística me dá de viver. Como aconteceu isto, como cheguei aqui?

Porque corro, porque anseio, porque desejo, porque me impaciento? Porque não solto o grito, porque não dou o passo, porque não fecho os olhos e tapo os ouvidos e digo BASTA! Basta de ser eu que sou agora, para ser o eu que quero ser... E corro, corro, corro, porque mesmo sabendo que não venço o fim da régua, basta saber que correrei mais depressa do eu que sou agora... Mas são voltas e voltas e voltas e mais voltas ao tempo!

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

Meditação num trajecto

Sou assaltado por futilidades, só porque sou feliz.

Percorro o caminho de todos os dias. O dia escurece, deixando de o ser, para ser noite. Avizinho-me da placa que me recorda que passarei numa fronteira invisível e que me obrigará a pagar portagem. Barreira essa que tanto me exaltou num passado recente e agora apenas me origina um encolher de ombros e um breve suspirar. No mesmo horizonte de sempre, o avião prepara aterragem.

A estrada é a mesma, os caminhos cruzam-se em sentidos contrários. A solidão do carro é menor que a do avião. Desejo no entanto lá estar, só desejo lá estar, no avião, não no carro. Vou como não quero, no que não quero, no sentido inverso ao que quero, mas vou e sinto agora que sempre irei...

Prossigo no caminho que agora é meu e vejo as pessoas com que me cruzo. O carro que me ultrapassa, o carro que é ultrapassado. A pessoa sozinha, a pessoa acompanhada. Homens, mulheres, portugueses ou espanhóis. A regressar do trabalho, em trabalho, ou em lazer. Todos eles se cruzam com o destino que é o deles. Não o queria por não ser o meu, mas queria viver em alguns desses destinos, para apagar esta inquietação que sempre me assalta, pois no olhar deles não vejo os aviões, mas a solidão de certo estará lá, só que eles não a vêem. Assim a sombra não vê a forma física que a origina, mas eu vejo a sombra!