Caminho pela praia. Os meus pés servem os meus olhos, que por sua vez tentam deslumbrar o desejo da minha mente. Os ouvidos mantêm a uma distância prudente o emolduramento dos sons. As mãos aguardam a instrução de avançar.
Encontro mas não procuro. O que procuro apenas julgo saber. A sua forma, o seu tamanho, a sua cor, a sua textura, o seu peso, a sua temperatura. Não procuro o que encontro, mas encontro sem o procurar.
Concentrado prossigo, a mente ordenando, os olhos procurando, as mãos atentas. A forma está próxima, agarro, aproximo dos olhos, mas não é esta a pedra, no entanto carrego-a. Prossigo, uns passos adiante encontro um tamanho, mas não o tamanho. Caminho agora com duas pedras na mão. A cor, a textura, o peso, a temperatura, duas ou mais, nenhuma, quase todas, quase nenhuma; tudo próximo para ser encontrado e tudo longe de ser o objecto da busca.
Caminho agora pesado, as mãos feito gesto de embalar, vacilam no receio de deixar cair uma pedra que seja, num passo mais penitente dos pés. De repente fico estático, tudo parece conferir, a temperatura, o peso, a textura, a cor, o tamanho, a forma. Todas, tudo, será realmente? Os olhos clamam pelas mãos e as mãos questionam o que fazer. As costas cedem um pouco para trazer um pouco mais próximo do campo de visão, até que o ameaçar de desmoronamento das pedras que transporto, provocam a erecção. Os pés imóveis, as mãos cansadas mas obedientes, os olhos perdidos, a mente indecisa. A mente não se pronuncia, os olhos fecham, as mãos voltam a ponta dos dedos para o chão e os pés descem com o seu peito colocando-me sobre os joelhos. Prontamente abrem os olhos, imediatamente surge a ordem da mente para as mãos. Estas são muito rápidas, demasiado rápidas, os olhos não conseguem analisar tão rápido...
Onde está ela, onde está? Soterrada entre muitas parecidas, o que parece raramente é como imagino. Procuro, procuro e não encontro. Sei que está lá, ou será que sei mesmo?! Os joelhos clamam misericórdia, os olhos enublam de lágrimas que atraiçoam, as mãos consolam os olhos secando a água, a mente essa exaspera contra tamanha insolência. Já não encontro, mas também não procuro, caminho novamente só, caminho novamente eu!
O que custa sonhar? O mesmo que existir...