terça-feira, 31 de agosto de 2010

Despedida do desconhecido

Experimento a sensação da despedida, despedida de algo que nunca encontrei, de alguém que nunca conheci, do que nunca senti. Ainda assim despeço-me e no vazio cresce a saudade, a saudade do que nunca encontrei, de quem não conheci, do que não senti.

Tudo progrediu, tudo avançou, o universo expandiu. Dois pontos outrora próximos, estão agora afastados numa dimensão tridimensional enorme. Meço as distâncias pelo vazio que fica, pelo vácuo que surge, cresce e toma posse de mim, na minha mente, no meu coração, em todo o meu corpo em uníssono e me leva a um estado de ansiedade que me faz recordar o ponto de partida.

Retomo o domínio num exercício de cedências, de opções goradas ou bem sucedidas, pouco interessa. Não sinto arrependimentos, se não encontrei, se não conheci, se não senti, não me eram destinados. Porque teria eu de controlar o destino? O presente já me esgota energias.

Algures num horizonte temporal por mim atingível, me unirei com alguns pontos. Nessa rota de colisão preparo o impacto. É muito grande o vazio, muito grande a distância, uma implosão imensa que não estou certo saber conter...

Por ora deambulo e faço uma pausa na turbulência do mar de inquietações pelo qual estabeleci a minha rota.

terça-feira, 3 de agosto de 2010

Preso por um fio

Estranha esta harmonia que me traz num estado alienado. Perco tempo a analisar, tempo esse valioso para sentir. Conjugação de fenótipo e genótipo, num só estado de alma, dos dois lados, o de fora e o de dentro. Pareço o que sou, e sou o que sinto.

É como se a ilha por momentos tivesse uma ponte e essa ponte dois sentidos. Essa ponte já existiu, mas só me levava, não os trazia. Agora vêm até mim, até ao meu espaço e não me sinto despido, não me sinto exposto. Sinto-me sim curioso e demasiado desperto para sentir o doce conforto desta sonolência emocional, que me ameaça adormecer os sentidos.

Como que caminho no fio da navalha. Acrobacia de circo que me mantém no topo mas não afasta o que parece inevitável - a queda. Por palhaço que me tomo, no solo encontraria o meu meio e entre olhares para o alto, encontrava na sombra do campo de visão, o descanso e o anonimato que sinto o mais valioso dos meus tesouros. Agora olham no mesmo sentido, mas se o palhaço está no chão e eu cá em cima, significa que agora sou acrobata. Se sou acrobata as luzes estão sobre mim e as sombras parecem-me o doce embalar do conforto e o calor do peito materno, à distância da idade adulta que nos rouba o direito de sonhar sem a maldade.

Pergunto-me qual o meu problema. Parece tudo tão fácil, uma rede de segurança, uma ponte, tudo tão fácil... E no entanto qual o meu problema?