sábado, 26 de outubro de 2013

Anti matéria

Desejos do passado, insatisfações do presente, irrelevância do futuro. Poderá significar fazer do passado o atual eterno, perpetuado a um tempo que existe para ter existido, mas não para vir a existir?
 
Sou a partícula que oscila entre dimensões. Não tenho importância, não tenho massa suficiente para interessar ao buraco negro que parece sugar tudo o resto e todos os outros que insisto gravitar em redor. Assim percorro livremente as dimensões do espaço, do tempo, na certeza da prisão do ostracismo. Não pertenço a nenhum lado, não pertenço a nenhum tempo...
 
A serenidade que a espaços e a tempos me visita, é como uma oferenda de uma existência primitiva. Na escuridão dos olhos fechados, na consciência da respiração, no embalar do batimento cardíaco, na música dos mecanismos mentais... Aí, sim aí nesse espaço, nesse tempo, aí sim a minha matéria cresce, avoluma-se e sinto-me sugado. Sou puxado a luz irrompe pela paz da escuridão, a respiração inquieta-se, o ritmo cardíaco sufoca e o cérebro grita ensurdecedoramente...
 
Aí a partícula que ganha massa, torna-se igual às outras. Ocupa um espaço, tem um tempo, o tempo certo. Só presente e futuro. Um novo nascimento em que as dores ficam do lado da nova vida e não de quem concebe.
 
Cambaleando de um sonambulismo profundo, encontro alguma paz e recomponho-me. Sou novamente o que sempre fui, o que nunca existiu, e o algum tempo, e o algum espaço. Sufoco novamente no desejo de viver no passado, no que ainda agora era presente, mesmo sem saber que o encontro mais facilmente no futuro.