Eis que ali estou na partilha de um diálogo de silêncio. Ele nada diz, eu nada ouço! A simplicidade do silêncio imediatamente é perturbada pelo arrojar de pensamentos complexos. A protagonista da distração, essa desviadora, a alegria ingénua da brincadeira três adolescentes, sem lugar para mais um, sem lugar para mim.
Estico as pernas numa posição mais confortável, bebo mais um trago de cerveja, elevo o olhar e antecipo a quedas das folhas que parecem pacificamente manifestar-se pela mão do vento e... E sinto-me percorrer memórias! Já não somos mas éramos. Éramos para sermos mais, mais nós mesmos, numa alegria de insensata simplicidade. O que aconteceu então?!
Aconteceu que crescemos, crescemos e não demos contas. As folhas sou eu, o vento os adolescentes. Está por dias, por dias e o meu ciclo terminará, tal como as folhas eu cairei... Queria recomeçar tudo e poder dizer-me que o meu tempo, o melhor até à data pelo menos, é aquele e nele poderia ficar sem mais desejar.
Do passado passei para o futuro, sem me dar conta do meu presente. É isso, é mesmo isso, eu não cresci, vivo fora de tempo. Refugio-me dos problemas, quando não tenho nenhum. Não tenho problemas, tenho apenas preocupações. O problema verdadeiro é a forma como lido com as preocupações...
Retraio as pernas, mais um trago de cerveja, prendo os olhos e a mente. Num gesto involuntário inicio nova conversa e um calor de Outono invade-me. Ele diz pouco, mas eu ouço tanto!
Caminhando uma ligeira resistência debaixo dos pés, emoldurada por um som facilmente confundível com agonia, apercebo-me que calco folhas caídas. Penso por elas, tudo recomeçará a primavera regressará e o tempo será novamente vosso. A minha primavera ainda não terminou e só tenho que me forçar a recordar isso todos os dias.
Quando me pisarem estarão a dizer-me que haverá um recomeço!